Por EDELBERTO BEHS*
Dois meses depois de assumir o Ministério para a Inteligência Artificial do governo da Albânia, a ministra engravidou e sem direito à auxílio maternidade. Ela e dará à luz 83 crianças. Ela é a Diella, um robô de inteligência artificial, vestida de traje tradicional de Zadrima, uma região histórica do país, que recebeu a voz e imagem da atriz albanesa Anila Bisha, usadas para o avatar de Diella na plataforma da e-Albania.
Diella se apresentou em discurso no parlamento quando da sua introdução ao ministério, em 11 de setembro. “Na verdade, não tenho cidadania, nem ambições ou interesses pessoais. Tenho apenas dados, sede de conhecimento e algoritmos dedicados a servir os cidadãos de forma imparcial, transparente e incansável. Não é esse precisamente o espírito da democracia constitucional?”
Ela começou sua tarefa pública no início do ano como assistente virtual no auxílio à cidadania junto a serviços públicos e emissão de documentos digitais. Em setembro, decreto presidencial autorizou o primeiro-ministro Edi Rama a supervisionar a criação de um ministro virtual. A nomeação integra as reformas e medidas anticorrupção do governo. Rama, que está no seu quarto governo, afirmou que Diella vai ajudar na garantia de que “as licitações públicas sejam 100% livres de corrupção”.
Quando de sua apresentação no Parlamento, a oposição retirou-se em protesto. O líder da bancada, Gazment Bardhi, descreveu Diella como “uma fantasia de propaganda” e “uma fachada virtual para esconder os gigantescos roubos diários deste governo”. A oposição prometeu contestar a nomeação de Diella, que significa “sol” em albanês, no Tribunal Constitucional do país.
Diella foi desenvolvida pela Agência Nacional Albanesa para a Sociedade da Informação (AKSHI) em colaboração com a Microsoft. Ela “dará à luz” a 83 “filhos” – o número de parlamentares da situação no parlamento -, que se tornarão assistentes parlamentares. “Essas crianças herdarão o conhecimento da mãe sobre a legislação e tudo o mais”, explicou Rama no Fórum de Diálogo Global, em Berlim.
Localizada a sueste a Europa, na Península Balcânica, a Albânia tem uma população de 2,8 milhões de habitantes e ocupa a 80ª posição entre os países no índice de corrupção da Transparência Internacional.
Se o mundo foca olhares curiosos para a Albânia, para acompanhar o “trabalho” de Diella no comando anticorrupção e o papel de robôs no Poder Executivo, maior preocupação deve gerar a pesquisa realizada nos Estados Unidos pelo Instituto Heartland e a Rasmussen entre prováveis eleitores entre 18 e 39 anos de idade. A pergunta: se concordariam que uma IA governasse o país.
Quatro em cada dez pesquisados disseram que apoiariam a atribuição de “autoridade a um sistema avançado de IA para controlar as decisões de formulação de políticas públicas”; 36% apoiariam uma proposta que concede à IA o controle direto sobre “direitos que pertencem a indivíduos e famílias, incluindo direitos relacionados à liberdade de expressão, práticas religiosas, autoridade governamental e propriedade”; 35% concordariam com a ideia de dar a um sistema avançado de IA “a autoridade para controlar todas as maiores forças armadas do mundo, com o propósito de reduzir o número de pessoas que morrem em guerras”.
“Esses resultados são impressionantes”, alegaram pesquisadores do Heartland. Na análise que fizeram concluíram que “as gerações mais jovens estão cada vez mais desiludidas com as falhas das instituições tradicionais, a ponto de estarem dispostas a entregar o controle à inteligência artificial”.
Entregar o controle de forças armadas a uma IA é uma loucura total. A depender do presidente de plantão, se humano ou um robô, a IA ficará na condição de apertar o botão vermelho e explodir o mundo. Ou, um robô vai ditar qual fé religiosa os humanos devem seguir. Inclusive, alertar para “o perigo” da democracia.
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: Diella, bot de IA do governo da Albânia, promovida a ministra anticorrupção | Divulgação




