Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é autor de uma rara proeza. Ele conseguiu se enrolar pelos dois lados da polarização política brasileira. Quando era aliado do PT de Luiz Inácio Lula da Silva, foi um dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na ação penal do mensalão. Teve uma pena de quase oito anos, ficou 11 meses detido, quando lhe foi concedida prisão domiciliar. No caso do julgamento da tentativa de golpe, Valdemar acabou conseguindo se safar inicialmente: o procurador-geral da República, Paulo Gonet, não o colocou entre os denunciados. Essa situação deverá mudar, no entanto. E Valdemar já sabe disso e começou a se mexer, em busca de assessoramento para enfrentar a situação que poderá lhe chegar.
Reabertura
Relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes sugeriu que se reabra a investigação sobre a participação de Valdemar. O presidente contratou o Instituto Voto Livre (IVL) para produzir o relatório técnico que embasou a ação que ele moveu contestando as eleições.
Contratante
No julgamento feito na terça-feira (21), os ministros da Primeira Turma, com exceção de Luiz Fux, condenaram o presidente do IVL, Carlos Rocha, como um dos integrantes do núcleo de desorganização. Condenaram o contratado e não condenaram o contratante?
Para Moraes, situação do PL precisa ser revisitada

TSE condenou o PL por litigância de má fé | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Como o Correio Político já destacara em maio, quando se iniciou o julgamento da tentativa de golpe no STF, o fato de Valdemar ter ficado de fora já chamava a atenção. E foi, inclusive, destacado pelo advogado de Carlos Rocha na ação, Melillo Dinis. Na sua defesa desde então, Melillo destacou que o relatório técnico feito pelo IVL nunca afirmou que havia possibilidade de fraudar as urnas eletrônicas. Havia uma cláusula de confidencialidade no contrato que impedia o IVL de falar sobre ele. Quem afirmou que havia essa possibilidade de fraude foi Valdemar, e não Rocha. E foi Valdemar quem acionou o TSE contra as eleições.
Ausência
Rocha não foi absolvido, mas a ausência de Valdemar foi sentida. E mencionada por Moraes. A sorte do presidente do PL é que isso lhe dará tempo. Se a sugestão de Moraes for aceita, a investigação sobre Valdemar será reaberta. Ou seja, começa outra vez da estaca zero.
Indiciado
Mas Valdemar já comentou com pessoas próximas que sabe que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Antes de ser livrado por Gonet, ele fora indiciado pela Polícia Federal. Avalia que agora, reaberto o caso, o destino final provavelmente será outro.
Assessoria
Assim, ele já começou a usar interlocutores para sondar possíveis novos assessoramentos para enfrentar a situação e gerir a crise que, pelo posicionamento de Moraes, ficou para ele iminente. A inclusão precisa ser votada, mas provavelmente irá acontecer.
Maioria
Já ficou mais do que claro que Moraes tem maioria entre os integrantes da Primeira Turma, que o seguem quase integralmente. Fux, tão pouco à vontade, até pediu agora para mudar para a Segunda Turma. Enfim, nova proeza de Valdemar, ele está de volta à cena.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Rocha chegou a ir ao TSE juntamente com Valdemar | Extraído do documento de defesa




