Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Desde a morte de Álvaro Valle, há 25 anos, Valdemar Costa Neto herdou dele o PL e tem exercido o comando absoluto do partido. Mas a cartada que deu quando conseguiu transformar o partido médio em um dos maiores do país ao filiar o ex-presidente Jair Bolsonaro começa a fazer com que Valdemar, pela primeira, sinta o PL escorrer dos seus dedos. Segundo um de seus interlocutores, a postagem feita pelo vereador Carlos Bolsonaro, compartilhada pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, reforçou esses temores. Na postagem, o filho 02 de Bolsonaro chama de “ratos” os governadores de direita que tentam se aproximar do ex-presidente visando seu apoio político e eleitoral e os rechaça como alternativa.
Alternativa
O problema para Valdemar é que o PL precisa construir uma alternativa para 2026, diante do fato de que Bolsonaro estará inelegível e, muito provavelmente, condenado e preso. E os filhos do ex-presidente não permitem o avanço de alternativas.
Aliados
E Valdemar começa a perder espaço em seu próprio partido para os bolsonaristas mais radicais. Uma dessas hipóteses é em Pernambuco, onde o ex-ministro do Turismo Gilson Machado disputa o cargo de presidente do PL no estado com o atual titular, Anderson Ferreira.
Reação a Duda Lima une filhos e Michelle

Michelle: solução rechaçada pelos filhos de Bolsonaro | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Os filhos de Bolsonaro reagem a qualquer tentativa de aproximação de Valdemar com os governadores. A oposição ao tarifaço de Donald Trump como pressão para livrar o ex-presidente do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), aposta de Eduardo, faz com que aumentem as críticas, especialmente ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Mesmo quando Valdemar busca um nome da família, há resistência. Sua preferência é por Michelle Bolsonaro. E os filhos do ex-presidente não se dão com ela. Segundo o interlocutor, só um ponto hoje uniria os filhos e a madrasta: críticas ao marqueteiro do PL, Duda Lima.
Radicais
Duda Lima enfrentaria também resistência da ala mais radical do partido. A invasão dos plenários da Câmara e do Senado também não contou com a conivência de Valdemar. Que ainda viu-se obrigado a expulsar do partido um amigo de longa data, Antonio Carlos Rodrigues.
Antonio Carlos
O deputado paulista Antonio Carlos Rodrigues é um dos melhores amigos de Valdemar. O presidente do PL viu-se pressionado a expulsá-lo do partido, depois que Antonio Carlos posicionou-se contra as sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes e em favor da soberania.
Registro
Valdemar tem medo que essa escalada de Eduardo Bolsonaro no sentido de estimular que Donald Trump aplique sanções contra o Brasil acabe por fazer com que o PL perca o seu registro como partido. Há um precedente: quando o PCB teve seu registro cassado em 1947.
PCB
Em maio de 1947, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou denúncia de que o Partido Comunista Brasileiro estaria a serviço dos interesses de outro país, a então União Soviética, e cassou o seu registro. O PL precisa evitar algo igual. Mas, como, com os filhos de Bolsonaro?
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Bolsonaro: problema e solução para Valdemar | Reprodução Youtube




