Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Circula um vídeo da deputada Tábata Amaral (PSB-SP) que mostra o tamanho da encalacrada em que se meteu neste momento o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). De maneira inteligente, Tábata adota no vídeo um tom mais de apelo do que crítica. E diz que momentos graves exigem dos governantes firmeza. Maior centro produtivo do país, São Paulo será o estado mais afetado caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, leve adiante a patacoada que ameaçou fazer com o suposto intento de ajudar o ex-presidente Jair Bolsonaro atrapalhando o país. Tábata coloca o dedo na ferida: São Paulo é o maior estado exportador brasileiro para os Estados Unidos.”Sua responsabilidade é com os paulistas”.
Limeira
Ela, então, enumera cidades que Tarcísio governa, que serão prejudicadas. “O seu dever é defender os trabalhadores de Limeira, maior exportadora de laranjas para os Estados Unidos”, lembra Tátaba. “Uma atividade da qual dependem 45 mil famílias paulistas”.
Rio Preto
“Sabe qual é o estado que exporta carne bovina para os Estados Unidos”, pergunta Tábata. “É São Paulo. É Rio Preto. É Araçatuba”. E segue com o café produzido na Alta Mogiana, região do Noroeste de São Paulo. “Milhões de famílias que se sustentam na cadeia da exportação”.
Os dois principais jornais de São Paulo no mesmo recado
Tábata imprensa Tarcísio de Freitas | Foto: Reprodução vídeo
Tábata batalha numa situação curiosa. Ela costuma ser atacada tanto pela direita como por parte da esquerda. Mas hoje no PSB, aproxima-se da mesma linha do vice-presidente Geraldo Alckmin, que, pelas conexões que tem com o setor produtivo paulista, pode virar uma pedra no sapato de Tarcísio. Nesse sentido, chamaram a atenção os editoriais muito parecidos dos dois principais jornais de São Paulo, O Estado de S. Paulo e a Folha de São Paulo. Publicados logo após o anúncio da carta de Trump, eles parecem se unir num mesmo recado a Tarcísio: “Ou o senhor se descola de Bolsonaro, ou nós nos descolamos do senhor”.
Estadão
Eis o que diz o Estadão: “É absolutamente deplorável que ainda haja (…) quem defenda Trump, como (…) fez o governador (…) Tarcísio de Freitas (…) Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita (…) Eis aí o mal que faz um irresponsável como Bolsonaro”.
Folha
Eis o que diz a Folha: “Ou bem Tarcísio defende os exportadores paulistas e a soberania nacional ou continua posando de joguete de boné de um agressor estrangeiro e da família Bolsonaro”. Os recados são claro, e a interpretação, assim, mais clara ainda.
Eduardo
A reação do filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, ao saber que Tarcísio fora ao encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, tentar negociar a reversão da ameaça de Trump acentua ainda mais esse desconforto de Tarcísio.
Pressão
Eduardo comemora a sobretaxação como forma de pressão para que se reverta a provável condenação de seu pai no Supremo Tribunal Federal (STF). Reversão que não parece poder acontecer. E parece esperar que o povo de São Paulo aceite nisso uma boa dose de sacrifício.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Apoio a Trump custa caro a Tarcísio | Reprodução vídeo