Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Ainda que com profundo desrespeito à obra original de Gilberto Braga e com momentos constrangedores que beiraram o ridículo, o telespectador brasileiro viu novamente o vilão Marco Aurélio de “Vale Tudo” dar uma banana para o Brasil. Desta vez, porém, Marco Aurélio acabou preso, amargou um tempinho de cana e deixou a prisão alegando “problemas de saúde”. Sinal dos tempos… Na vida real, a semana foi também de dar banana. Ou “bananinha”. Por tudo o que se sabe da reunião que tiveram o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, uma solene “bananinha” foi dada ali ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aos seus esforços de livrar seu pai, Jair Bolsonaro, das barras da Justiça.
Sem menção
De tudo o que se sabe a respeito da conversa, não houve qualquer menção à situação de Jair Bolsonaro. Como, aliás, nenhuma menção fora feita nas preliminares entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump ou na conversa inicial entre Vieira e Rubio.
Diplomacia
Alguns desdenham que nada ainda saiu de concreto da reunião. Desconhecem como funciona a diplomacia. Foi uma primeira conversa na qual ambos os lados colocaram na mesa o que desejam negociar. Até porque haverá um encontro formal entre Lula e Trump.
“Pintou petroquímica”, China e big techs

Governo contabiliza como ponto a defesa da soberania | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que, das conversas, “pintou” mais do que “uma química”, mas “uma petroquímica”, não é apenas uma piada sem sentido. Possibilidades de exploração mineral foram parte importante da conversa. Petróleo na foz do Amazonas e os minérios das chamadas “terras raras”, que são usados na produção de componentes eletrônicos. A contenção dos interesses comerciais da China no sul do planeta com a chamada “nova rota da seda”. A atuação das big techs norte-americanas na internet brasileira. E a situação da Venezuela, com a sugestão de Vieira de que o Brasil participe da mediação.
Pretexto
Há quem avalie que a entrada inicial de Bolsonaro na cartada de Trump teria sido mero pretexto para forçar o começo da negociação. Algo ao estilo Trump. Ele começa jogando pesado, para além do seu cacife, para, depois, ir realmente ao que lhe interessa.
Três regras
Quem assistiu ao filme “O Aprendiz”, de Ali Abbasi, aprendeu também as três regras que o advogado Roy Cohn ensinou a Donald Trump no início de sua carreira: “Ataque, ataque, ataque”; “Admita nada, negue tudo”, e “Sempre clame vitória, nunca admita derrota”.
Vitória
Assim, evidentemente do que sair da negociação com o Brasil, Trump tentará arrematar como vitória sua. Mas numa negociação diplomática, ninguém ganha sozinho. O Brasil e Lula muito provavelmente também terão o que apontar como vitória no acordo.
Soberania
Dentro do governo, o primeiro ponto que vem sendo comemorado é a retomada da defesa da soberania. E, voltando a “Vale Tudo”, no último capítulo, a defesa dos valores nacionais foi tema de longa conversa dos personagens Ivan e Bartolomeu. Enfim, vale tudo…
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Marco Aurélio e a famosa “banana” para o Brasil | Reprodução de vídeo




