Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Impressionou, no primeiro dia do Fórum Parlamentar do Brics, como o Congresso Nacional estava esvaziado. Poucos parlamentares se dispuseram a acompanhar os debates com seus colegas da Rússia, Índia, China, África do Sul e dos demais países que aderiram ao bloco recentemente. Uma pena, porque as discussões econômicas e políticas em torno do bloco são importantes, especialmente em um momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a direita mais extremada trabalham contra o multilateralismo que o Brics representa. Mas talvez esteja justamente aí o esvaziamento. A maioria do Congresso é conservadora, ainda que não de extrema direita. E pouco parece se importar com essa discussão.
Teresa Cristina
Por isso, chamou a atenção a presença da senadora Teresa Cristina (União Brasil-MS), ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro. Ela foi entrevistada por Tales Faria, do Correio da Manhã. E mostrou-se pragmática quanto às discussões comerciais do bloco.
China
Quando era ministra, Teresa Cristina era a única que confrontava Bolsonaro com relação aos seus extremos, como no caso da covid. Lembrava que o Brasil tem relações com o mundo. Na manhã desta terça-feira (3), lembrou que a China é o principal parceiro do Brasil.
Abertura do Fórum reforçou multilateralismo

Tereza Cristina: rara visão mais pragmática à direita | Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Mesmo com a pouca presença, a abertura do Fórum Parlamentar do Brics reforçou a importância do multilateralismo. Especialmente em um momento em que Trump tenta forçar que os países prefiram discutir acordos bilaterais somente com ele, e não em bloco. Na reunião comandada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), essa questão foi colocada. “O agravamento de antagonismos não nos levará à paz”, disse Nelsinho Trad na abertura. “Houve uma defesa unânime do livre comércio e do multilateralismo”, comentou ao Correio Político o senador Humberto Costa (PT-PE).
Economia
Os países do Brics representam cerca de 30% da economia mundial. Em termos somente de comércio, suas relações correspondem a 20% de todo o planeta. Em um momento em que Trump, com suas taxações, compromete o livre comércio, é uma alternativa.
População
Nos países que fazem parte do Brics, está 40% da população do planeta. Incluindo os dois mais populosos, que são a Índia e a China. Em cada um desses países, vivem mais de 1,4 bilhão de pessoas. Em terceiro, vêm bem atrás os EUA, com 346,3 milhões de habitantes.
Banco
Há um bocado de dinheiro envolvido nas discussões do bloco. O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do Brics, dispõe de nada menos que US$ 50 bilhões para financiar projetos nos países que compõe o bloco. Somente no Brasil, já financiou US$ 5 bilhões.
Congresso
Tudo isso deveria merecer maior atenção do Congresso. Porque há no bloco alternativas reais caso Trump radicalize as suas políticas. Talvez um Congresso de perfil mais conservador queira evitar dar atenção a isso. Se conseguirá, porém, evitar os avanços, é outra história.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Discussão no Brics não parece ter empolgado | Rudolfo Lago/Correio da Manhã




