CORRESPONDENTE POLÍTICO: O fim do governo de coalizão?

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Lula com o Centrão: essa relação terminou? | Ricardo Stuckert/PR

Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã

Foi no governo Fernando Henrique Cardoso que a expressão “governo de coalizão” foi introduzida para explicar a lógica política. Num país com uma variedade enorme de partidos, a maioria sem muita afinidade ideológica, o caminho para construir maioria foi estabelecer alianças em torno de cargos e verbas. A lógica manteve Fernando Henrique por dois mandatos. Luiz Inácio Lula da Silva também por dois mandatos. Poderia ter dado certo também com Dilma Rousseff. Se não deu, há uma grande discussão se foi por falta de habilidade política dela ou se a ex-presidente não teria sido a primeira vítima de certa falência do modelo. Ao resolver demitir os apadrinhados do Centrão, Lula agora acena inaugurar um novo modelo.

Acabou?

O governo de coalizão acabou? O advogado e analista político Melillo Dinis cunhou uma expressão para classificar a nova relação há algum tempo. Para ele, a antiga coalizão teria sido substituída por um “governo de colisão”, onde os poderes se chocam o tempo todo.

Dias e dias

O Correio Político retornou a Melillo Dinis. “Há dias de presidencialismo de coalizão e há dias de presidencialismo de colisão”, considera o analista. Para Melillo, a lógica atual não superou a coalizão, apenas estabeleceu uma nova regra quanto ao que se espera de volta.

“Governo resolveu deixar de ser mole como mangaba”

Aliança mais forte com Alcolumbre que com Motta | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Cearense, Melillo usa uma expressão nordestina para explicar o que pode ter mudado. “O governo resolveu deixar de ser mole como um prato de mangaba” nessa relação com o Centrão e o Congresso. Ou seja, não mais parece disposto a ceder cargos e verbas e só receber algo em troca quando o Centrão julgar que isso lhe beneficia e é conveniente. Fazer parte do governo não pode ter somente bônus. Nesse sentido, um líder do governo repetiu uma frase que ouviu do ministro do Turismo, Celso Sabino (União): “Não dá para casar e continuar saindo sozinho”. O criador do Centrão, Roberto Cardoso Alves, diria: “É dando que se recebe”.

Alcolumbre

Para Melillo, verifica-se ainda a antiga lógica da coalizão na relação mantida agora pelo governo com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Ele é padrinho de dois ministros: Waldez Góes, ministro da Integração, e Frederico Siqueira, das Comunicações.

Lira

Da mesma forma, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) é o padrinho do presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira Fernandes. Por essa lógica, nem União nem PP mexem com esses apadrinhados políticos. Diante do retorno dos padrinhos, ficam onde estão.

Eleições

Se outros ficam ou retornam, o governo espera reciprocidade. No fundo, o que move tudo é o cenário eleitoral, a essa altura a menos de um ano das eleições. Para onde irá cada um dos integrantes do Centrão, depende de cálculos tanto nacionais quanto regionais.

Cargos

É até verdade que o poder que tinha o Executivo com seus cargos e verbas reduziu-se. Mas ainda há uma coisa importante para qualquer político: para onde se move o eleitor do seu estado a partir da avaliação que faz do governo federal. O cálculo é cada vez mais por aí.


*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.

Publicado originalmente no Correio da Manhã.

Foto de capa:  Lula com o Centrão: essa relação terminou? | Ricardo Stuckert/PR

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