Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O grande problema das “bombas atômicas”, usando a imagem que foi utilizada pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), é que elas, pela enorme amplitude do seu estrago, não são capazes de atingir somente os alvos desejados. No caso da tal “bomba” lançada sobre o Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o erro de alvo parece ter sido ainda maior. A “bomba” não atingiu o Supremo Tribunal Federal (STF), onde a ação contra Bolsonaro seguiu incólume. E foi bater profundamente nos setores que até então davam sustentação ao ex-presidente, no empresariado e no agronegócio. A desarrumação provocada foi tão grande que os efeitos no momento não atingem somente a corrida presidencial para 2026.
Estados
A estratégia que vinha sendo montada pela direita na disputa nos estados também sofreu abalo. No papel, ela parecia perfeita: para o Senado, Bolsonaro apoiaria um nome mais radical, identificado com seu grupo e outro nome mais moderado, que ficaria em crédito com ele.
Senado
Com isso, imaginava-se conquistar, então, ampla maioria no Senado. O grupo teria logicamente os mais radicais. E teria também os moderados conservadores, que ficariam em dívida pelo apoio. Caminho certo para aprovar impeachment de ministros do Supremo.
Arranjos não fecham e prejudicam governadores
Direita pode se dividir no apoio a Ibaneis | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O problema é que os arranjos não fecham. A coluna Magnavita na segunda (14) apontou para os problemas no Rio de Janeiro e no Distrito Federal. Problemas que afetam as pretensões de Claudio Castro (PL) e Ibaneis Rocha (MDB). Nenhum dos dois consegue ter garantias de Bolsonaro para as suas pretensões pelo Senado. No DF, vislumbra-se a possibilidade de duas chapas da direita. Ibaneis sairia candidato na chapa encabeçada por sua vice-governadora, Celina Leão (PP), para o governo. E outra chapa teria como candidatas ao Senado Michelle Bolsonaro e a deputada Bia Kicis (PL). Em São Paulo, Tarcísio repensa a ideia de reeleição.
Desembarque
No caso de São Paulo, Tarcísio recebeu recados fortes de que, ou se descola de Bolsonaro ou perderá o apoio do empresariado. Diante da confusão, voltou a cogitar, como mostrou Fernando Molica no Correio Bastidores, disputar a reeleição, tarefa bem mais fácil.
Alagoas
O estado de Alagoas é um bom exemplo. A nomeação para o Superior Tribunal de Justiça (STF) de Marluce Caldas, tia do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC, faz parte dessa estratégia. JHC deverá deixar o PL e voltar para o PSB, partido ao qual já foi filiado.
Esquerda
Unidade também nunca foi o grande forte da esquerda. Mas a conversa entre o PT e seus aliados tem sido muito em torno de, desta vez, fazer alianças pragmáticas para derrotar a oposição nos estados, ainda que isso venha a significar muitas vezes apoio a conservadores.
Dobradinha
Pode se construir em Alagoas uma chapa com JHC e Renan Calheiros (MDB) para o Senado. E o ministro dos Transportes, Renan Filho, para o governo. E, ainda, uma hipótese mais inusitada: JHC não disputaria, e para o Senado seria Renan e Arthur Lira (PP).
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: “Bomba” de Trump acertou no que não queria | Donald Torok/Fotos Públicas
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