Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Quando anunciou seu tarifaço com aquela tabela que parecia de porta de supermercado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez derreter as bolsas de valores do mundo. Na ocasião, porém, sugeriu aos investidores: “É uma boa hora para comprar”. Na quarta-feira (9), quando recuou, baixou todas as tarifas para 10%, mantendo somente a guerra comercial com a China, as bolsas de valores tiveram uma subida espantosa, recorde. Quem foi na onda de Trump ganhou muito dinheiro. Ontem, as bolsas de valores caíram novamente. Se a intenção com essa montanha-russa era tornar os especuladores milionários, o plano dá muito certo. Se, porém, era fortalecer a economia norte-americana, há controvérsias.
Recessão
A ex-presidente do Federal Reserve (FED), o Banco Central dos EUA, Janet Yellen, disse em entrevista à CNN que Trump aumentou as possibilidades de o país cair em recessão. A tributação aumentará a inflação. E pode também levar a uma redução de investimentos.
Cartada
Mas esses, enfim, são problemas para os Estados Unidos resolverem. O que nos importa é o impacto disso tudo para o resto do mundo. Do seu posto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva observa. E pode dar dado uma cartada importante em Honduras na quarta-feira (9).
Celac terá reunião com a China em maio
Xi Jinping quer fortalecer laços com os países do Sul | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Na Cúpula dos Países Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Tegucigalpa, capital de Honduras, Lula pregou que os países do grupo, unidos, tentassem eleger uma mulher para a Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). É uma jogada no sentido oposto da proposta de Trump. Ele, e outros líderes da nova direita do mundo, desprezam os organismos multilaterais e tentam priorizar caminhos para que as negociações voltem a ser bilaterais, país a país, como acontecia antes da Segunda Guerra Mundial. Para contrapor Trump, Lula aposta no caminho oposto: o fortalecimento multilateral.
México
A proposta de Lula teve o apoio da presidente do México, Claudia Sheinbaun, que depois se reuniu em Tegucigalpa com o presidente brasileiro. Dentro da guerra comercial com Trump, a aposta no fortalecimento do multilateralismo é o que deseja a China.
Reunião
Em maio, haverá uma reunião da Celac com o presidente da China, Xi Jinping. A China já vinha antes interessada em fortalecer laços com os países do Sul, dentro da consolidação do que chama de “Nova Rota da Seda”, referindo-se ao caminho comercial da antiguidade.
Isolar
Se a intenção de Trump é isolar a China ao manter somente com ela sua guerra comercial, não se deve desprezar um efeito contrário que venha a isolar, na verdade, os Estados Unidos. Tudo dependerá de Trump seguir tratando o resto do mundo como se fosse seu quintal.
Multilateral
Ao contrário do que Trump deseja. Lula aposta que soluções alternativas podem sair das organizações multilaterais. Seja a ONU, seja a Organização Mundial do Comércio, à qual cogita recorrer se preciso, sejam os blocos menores, como a própria Celac ou o Brics.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
.Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Lula aposta nos mecanismos multilaterais |Ricardo Stuckert/PR
Uma resposta
Nos traz esperança ler está matéria.