Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) é uma instituição mais do que centenária. Fundada em 1843, tem hoje, portanto, 182 anos. Mais antigo que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o IAB já participou de debates importantes da história brasileira. Nas últimas semanas, porém, seus debates descambaram para trocas de insultos, xingamentos e discussões, que culminaram com a instauração de processos disciplinares no instituto contra duas advogadas, a paraibana Laura Berquó e a própria presidente do IAB, a carioca Rita Cortez. A briga entre as duas veio à tona depois da discussão de um pedido de moção de repúdio a Israel por ter detido em águas internacionais a Flotilha Global Sumud e prendido seus tripulantes.
Tempos
Para além das questões ideológicas, a forma como a briga se desenvolve reflete os tempos atuais. Tempos em que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) diz a outro em plenário que ele é “uma pessoa horrível” e “desprovida de sentimentos”.
Chutes
Ou tempos em que um deputado troca chutes com um manifestante. Ou troca tapas, Cusparadas. Tempos em que o apelo à educação e tolerância vira crítica contra o “discursozinho polido” na atual guerrilha cheia de convicções e certezas das redes sociais.
Na briga, acusações políticas e de misoginia

A outra é a presidente do IAB, Rita Cortez | Foto: Divulgação
A briga entre as duas advogadas parece ter na sua origem a disputa política interna após Rita Cortez ter sido eleita presidente do IAB em seu terceiro mandato. Segundo Rita Cortez, tudo começou depois que uma terceira advogada, Paula Frassinetti, ingressou com processo disciplinar contra Laura Berquó. Laura, por sua vez, afirma que quem a persegue de fato é Rita Cortez, com desqualificações e insultos feitos também por homens da sua diretoria. Por conta disso, Laura ingressou também com processo disciplinar contra a presidente do IAB. Na semana passada, Rita iria depor no processo interno e responder a perguntas.
Não depôs
Alegando que passava a ser, então, alvo também de processo, Rita Cortez não depôs. Não respondeu às perguntas do advogado de Laura, Leonardo Vilarinho. Nem as ouviu, retirando-se da sala. Vilarinho fez, mesmo assim, as perguntas que tinha preparado.
Moção
No caso da flotilha, Laura Berquó afirma que não estaria sendo levado em conta o direito dos filiados de apresentarem pedidos de moção. Rita Cortez diz que o caso não foi analisado por falta de tempo. Mas que o IAB já fizera antes nota contra o conflito entre Israel e o Hamas.
Abolição
A presidente do IAB nega a polarização ideológica. Diz que, já na sua origem, o IAB vivia discussões acaloradas. À época da sua fundação, por exemplo, envolvendo a abolição da escravatura. Por ser uma instituição “plural”, diz ela, discussões e divergências acontecem.
Acusações
As discussões, talvez, não terminassem com trocas de processos disciplinares. Segundo um outro advogado ouvido pelo Correio da Manhã, um “sinal dos tempos”, quando o excesso de energia e a falta de tolerância tornam qualquer discussão inócua.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Laura Berquó é uma das advogadas envolvidas | Reprodução Instagram





Uma resposta
BRIGA DE COMADRES , NAO TEM A MENOR IMPORTANCIA…..