Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Até hoje, a Rádio Nacional, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), mantém transmissão em ondas curtas. Porque existem regiões do Brasil, especialmente na Amazônia, onde não há nenhum outro sinal possível de comunicação. Nesse sentido, ainda é difícil de fato mensurar qual é o peso total das redes sociais nas decisões políticas tomadas pelos brasileiros. Mas o peso, sem dúvida, há. E durante um bom tempo foi a razão dos problemas da esquerda e do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A direita aprendeu a dominar as redes, e a esquerda ficou para trás. Ainda é cedo para afirmar que esse quadro tenha mudado. Mas levantamentos feitos pela comunicação do governo vão no sentido de concluir que já não há mais esse domínio.
Reflexo
E isso se reflete nos bons números atuais de popularidade. O Instituto Quaest mostrou na quarta (8) Lula em seu melhor momento. E nesta quinta (9) apontou que ele venceria as eleições do ano que vem em qualquer cenário, contra qualquer adversário.
Derrota
Tal constatação foi feita depois da derrota do governo na quarta-feira (8), quando a Câmara deixou caducar a Medida Provisória que tributava aplicações financeiras. As impressões são de que, mesmo com a derrota, as menções positivas foram maiores que as negativas.
Ideia de que Congresso só atende aos ricos pegou

Sabino: como Fufuca, questão de sobrevivência | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
A virada dada nas redes sociais começou quando o PT divulgou filmetes usando inteligência artificial em julho para defender maior taxação sobre os ricos e que o Congresso só tratava de defender os “BBBs”: bancos, bilionários e bets. Depois, a situação melhorou quando as ações de Donald Trump entregaram de bandeja ao governo a defesa dos interesses nacionais, que até então era bandeira da direita. É claro, o governo sabe que a derrubada da MP é um problemão do ponto de vista econômico, porque representa um rombo de R$ 35 bilhões no orçamento. Mas pode não ser o mesmo do ponto de vista político. Seguiu-se na mesma linha.
Bets
Quando ainda tentava os votos para aprovar a MP, o relator Carlos Zaratini (PT-SP) já tentava amenizar o texto justamente livrando de tributação as bets e algumas aplicações. A estratégia, então, vai na linha de mostrar que o que se fez foi a defesa dos mais ricos.
Temas
Além disso, os levantamentos mostram que outros temas além da votação na Câmara dominaram as redes no mesmo momento. Temas favoráveis. Especialmente os dados da pesquisa Quaest e as notícias sobre a permanência de ministros do Centrão.
Ministros
Mesmo contrariando a determinação da Federação Progressista, que une União Brasil e PP, Celso Sabino, do Turismo, e André Fufuca, dos Esportes, resolveram ficar nos seus cargos. E as menções a esses fatos nas redes teria sido mais positiva do que negativa.
Sobrevivência
No fundo, as decisões de Sabino e Fufuca se traduzem em sobrevivência. Eles enxergam imensa dificuldade de construir projetos no Pará e no Maranhão que não sejam hoje atrelados a Lula e seu governo. Pode virar, mas esse é o quadro do momento.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Apesar da derrota, governo acha que ganha debate | Lula Marques/Agência Brasil




