Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Há um dado com relação ao desgaste sofrido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), nas redes sociais após a derrota sofrida pelo governo no caso do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que torna imponderável a avaliação sobre o ganho político do episódio para o governo. Um levantamento feito pela agência AtivaWeb na semana passada mostra que o movimento ultrapassou o embate entre a esquerda e a direita. A indignação avançou especialmente em grupos que não têm maior identificação política. E elegeu Hugo Motta como o grande vilão no processo. Portanto, até onde isso poderá de fato extrapolar para gerar dividendos para o governo, é algo que será preciso avaliar com prudência.
Transbordou
“O volume de críticas contra Motta não nasceu apenas da esquerda”, observa o CEO da Ativaweb, Alek Maracajá. “A esquerda impulsionou com investimento financeiro, mas o conteúdo rapidamente transbordou para a direita e, principalmente, chegou ao povão”.
Bolhas
Para Maracajá, “o apelo do pobre contra o rico” furou bolhas e virou combustível para uma revolta popular. “O que era bolha virou correnteza”, conclui ele. O levantamento mostra que 68% das menções tiveram apelo emocional, de rejeição, indignação ou raiva.
Curiosamente, Alcolumbre escapou ileso da fúria
A
lcolumbre escapou da indignação popular | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Um dado curioso do levantamento é como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), escapou ileso da fúria das redes. Alcolumbre também estava no famoso jantar na casa de Motta em que foi costurado o acordo com o governo em torno da questão do IOF. Alcolumbre também quebrou, junto com Motta, o acordo que foi feito. A Câmara primeiro derrubou o IOF, e depois ele foi derrubado em votação simbólica no Senado. Mas a fúria voltou-se somente para Hugo Motta. “Crises digitais não seguem lógica institucional, seguem lógica simbólica”, explica Alek Maracajá. Segundo ele, “o digital escolhe rostos”. O escolhido foi Motta.
Alcolumbre
No mesmo dia em que foi derrubado o IOF, foi o Senado que aprovou o aumento do número de deputados de 513 para 531. Com o voto do próprio Alcolumbre que, como presidente do Senado, só delibera ele próprio quando deseja, e isso ocorre raramente.
Deputados
Mas eram os deputados que iam aumentar. Ainda que do ponto de vista orçamentário, o valor seja irrisório, R$ 64 milhões a mais por ano, era o aumento do número de deputados que mostrava não ser assim tão sincera a preocupação do Congresso em cortar gastos.
Jato
Pesou ainda contra Hugo Motta a notícia de ter usado um jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a Portugal, onde participou do Fórum de Lisboa, promovido pelo Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), pertencente ao ministro Gilmar Mendes, do STF.
Polêmico
Conhecido pelo apelido de “Gilmarpalooza”, o fórum reúne diversas autoridades do país, políticos e empresários. Por ser fora do país, há sobre ele uma carta dose de polêmica. A soma de tudo isso colou sobre Hugo Motta. Que ganho trará para o governo, será preciso ver.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Revolta nas redes canalizou sobre Hugo Motta | Lula Marques/Agência Brasil