Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Há uma razão para a Câmara resolver retirar da pauta e deixar caducar a MP que compensaria a revogação do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Essa razão é o Senado e relação complicada nas últimas semanas. As duas Casas estão em algum tempo em pé de guerra. Conflito que começou quando o Senado derrubou por unanimidade a PEC da Blindagem. Mas que teve seu ápice na terça-feira, depois que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), indicou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) o relator do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda. Renan bateu duro. Disse que o o Senado não o usaria como “instrumento de chantagem” contra o governo, como teria feito a Câmara.
Inimigos
Alcolumbre escolheu para relatar o tema no Senado o inimigo figadal do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que relatou a MP na Câmara. A pancada de Renan, assim, não foi exatamente dirigida à Câmara, mas ao seu principal adversário em Alagoas.
Tempo
Mas Alcolumbre não é nem desinformado nem inocente: sabia bem quem estava escolhendo. A crítica a Arthur Lira feita por Renan devia-se ao tempo que a Câmara levou para votar o projeto, em torno de seis meses. Para Renan, para fazer pressionar o governo.
Senado usa por base um outro projeto
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De outro, Alcolumbre e Renan Calheiros | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Há ainda um segundo troco de Alcolumbre. Quando a Câmara apresentou a proposta batizada de “PL da Dosimetria”, o presidente do Senado ficou extremamente irritado. Afinal, ele viria desde o início do ano articulando proposta semelhante, numa articulação com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O projeto relatado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) vai na mesma linha. Assim, se a Câmara optou pela sua própria solução, Alcolumbre resolveu fazer o mesmo com o Imposto de Renda: em vez de o projeto relatado por Lira, usará como base outro projeto igual que foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos.
Vaidades
Há, assim, uma disputa de vaidades que, no final, ultrapassa Hugo Motta e Davi Alcolumbre. No fundo, é fruto de uma total confusão que hoje acontece na cabeça do Centrão, do qual ambos fazem parte, quando a ser ou não aliado do governo Lula.
Republicanos
Parte do Republicanos de Hugo Motta é oposição, outra parte é governo. Em federação, o União Brasil e o PP de Arthur Lira e Davi Alcolumbre anunciam que vão para a oposição, mas seus ministros resolvem ficar mesmo assim no governo. Sobre a Caixa, nem se fala.
Lira
Muito mais que a seu partido, Hugo Motta deve sua eleição na Câmara a Arthur Lira. Que, demorando ou não, obteve a aprovação unânime do Imposto de Renda na Câmara, o que certamente deve ter ficado bem longe de agradar a Renan Calheiros.
Alcolumbre
No União Brasil, a situação é tão complicada que o partido considera dois dos seus ministros no governo cota de Alcolumbre, e não do partido. E respeita a decisão de Alcolumbre de mantê-los. No fundo, porém, cálculo. Com Lula mais popular, vale a pena sair do governo?
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: De um lado, Hugo Motta e Arthur Lira | Lula Marques/Agência Brasil
