Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é vítima de fogo amigo, isso acontece desde o início do governo. Mas os comentários que circulam nos corredores próximos ao Palácio do Planalto são de que ele, de fato, vem se esmerando para ser alvo dessas críticas. Em tom de brincadeira, começou a surgir depois da semana passada a frase “Não é só pelo IOF”. Ela é uma referência à frase “Não é só pelos R$ 0,20”, que deu início às manifestações políticas de 2013, que são o começo da crise que desgastou a então presidente Dilma Rousseff, num processo que acabou no seu impeachment. Na época, Haddad era o prefeito de São Paulo, e Geraldo Alckmin o governador. E ambos acertaram um reajuste na tarifa dos ônibus. E esse foi o primeiro recuo.
Voluntarioso
Haddad e Alckmin recuaram, mas isso não impediu que as manifestações acontecessem. Diziam os manifestantes, que “não era só pelos R$ 0,20”. A história tem sido lembrada para criticar o que seria um defeito de Haddad: o ministro da Fazenda seria muito voluntarioso.
Sem combinar
Com isso, muitas vezes acaba envolvido com anúncios de coisas que surpreendem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros representantes do governo. Coisas que, sem combinação prévia, acabam motivando a necessidade de um recuo para evitar maiores danos.
Há, porém, quem ache que Haddad assume o desgaste
Avança e recua era uma tática de Bolsonaro | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Embora essa crítica a Haddad vá se tornando mais frequente, há também uma outra avaliação. O ministro da Fazenda estaria, de certa forma, aceitando um desgaste para poupar Lula. O que acontece, segundo quem avalia assim? Lula vive um terceiro governo de formação muito complexa. Precisa manter um mínimo de equilíbrio entre forças que pensam muito diferente num tempo de radicalização. Ao mesmo tempo, precisa fazer acenos à esquerda que sempre representou sem abandonar os grupos conservadores de que precisa para lhe dar sustentação. Entre essa cruz e essa caldeirinha ninguém se move mais que Haddad.
Balões
Há quem avalie, então, que Haddad, na verdade, lança às vezes balões de ensaio para ver as reações. Como disse à repórter Karoline Cavalcante o cientista político André Rosa, pode ser uma replicação da tática de “ocupação de cabeça de ponte” de Trump e Bolsonaro.
Ponte
Na estratégia militar, significa ocupar uma área avançada e tentar mantê-la. Se der certo, avança-se. Se der errado, recua-se. No governo Bolsonaro, o caso mais conhecido foi o recuo depois daquele 7 de Setembro quando disse que não mais obedeceria a ordens do STF.
Risco
Se for isso, é uma tática de imenso risco. Na verdade, não deu certo nem com Trump no seu primeiro governo nem com Bolsonaro. Eles acabaram não se reelegendo. No caso de Haddad, gera um imenso desgaste para um ministro que ocupa uma área vital do governo.
Não sai
Porque, segundo se avalia, mesmo desgastado Haddad não sai do governo. Trocá-lo iria gerar um desgaste maior. E se vai queimando uma opção eleitoral do PT caso Lula não seja candidato. Mas, no fundo, há quem diga que esse seria mesmo o desejo de parte do PT.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Papel de Haddad nos atos de 2013 é lembrado |Valter Campanato/Agência Brasil
Uma resposta
Sejam quais forem as razões confio totalmente nas decisões corajosas do ministro Fernando Haddad que é, de longe, o melhor ministro do governo Lula e talvez venha a se revelar o melhor ministro da Fazenda que o Brasil já teve.