Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
No discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez no domingo (3) no encerramento do Encontro Nacional do PT, alguns recados importantes foram dados. Além das frases dirigidas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a respeito do tarifaço e as ameaças à soberania do país, Lula falou para o seu próprio governo e para o PT. Reconheceu que as pessoas têm razão quando avaliam mal o governo. “É muito lançamento dentro do Palácio e pouco na rua”, criticou. E mandou um recado forte para a divisão interna do PT. O novo presidente do partido, Edinho Silva, teve três adversários na disputa. Lula conclamou o PT a se unir e a parar com um “monte de tendência pessoal, um monte de picuinha”.
Fogo amigo
As posições de Lula não deixam de ser curiosas. Uma vez que ele mantém bem próximo a ele no Palácio do Planalto alguns que, nos bastidores, são considerados na linha de frente do fogo amigo: Rui Costa na Casa Civil e Gleisi Hoffmann nas Relações Institucionais.
Austericídio
No caso de Gleisi, essas críticas vinham mais de quando ela presidia o PT. Foi sob seu comando que o partido fez um manifesto considerando a política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de “austericídio” por buscar manter as metas fiscais.
Reunião criticou Edinho na casa de Gleisi

Humberto: eleger base é o grande desafio | Foto: PT
Chegou a haver uma reunião na casa da própria Gleisi, em Brasília, para criticar Edinho Silva no momento inicial da sua candidatura. Após a reunião, Lula interveio no campo majoritário, a corrente Construindo um Novo Brasil, e conseguiu ali a unidade, inclusive com a retirada de uma candidatura alternativa do grupo, do prefeito de Maricá, Washington Quaquá. Disputaram contra Edinho, por outras correntes, Rui Falcão, Romênio Pereira e Valter Pomar. Edinho obteve 73,48% dos votos. “São críticas que todos nós fazemos há muito tempo”, observa o senador Humberto Costa (PE), que estava antes de Edinho na presidência do PT.
Eleições
Para Humberto, o cenário político exige unidade diante dos seus desafios. A prioridade do PT, é claro, é reeleger Lula presidente. Mas há outra necessidade que é quase tão importante: Lula não pode vir a ter uma base no Congresso ainda menor do que tem agora.
Debate
“Esse debate precisa começar a acontecer, como prioridade”, considera o senador. Antes de assumir a presidência do PT, era Humberto quem vinha mapeando os cenários estaduais. Ele prega que o partido deve estar aberto a alianças mesmo no campo conservador.
Oposição
Como plano, a oposição traça uma estratégia para atrair o centro, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro apoiaria um nome do seu grupo, de direita, e outro mais moderado, que passaria a ficar, com o apoio, comprometido com ele e suas bandeiras. Mas há problemas.
Estratégia
Tal estratégia, no entanto, vem esbarrando em disputas regionais. Que o PT e os partidos aliados a Lula podem tentar aproveitar, antecipando as conversas para alianças. Esse quadro, porém, ainda está incipiente. O rumo do centro do país está ainda em aberto.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Lula pede unidade: PT precisa parar de “picuinha” | PT




