Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Na época do regime militar, costumava-se dizer que “a esquerda só se une na cadeia”. Era uma crítica dos opositores ao fato de que as diferentes correntes ideológicas o que mais faziam era brigar entre si, dificultando, assim, o combate à ditadura militar. Nesta terceira era Lula, há, porém, sinais de quem não consegue se unir é a direita. Diante da falta da referência do principal nome do segmento – o ex-presidente Jair Bolsonaro, prestes a ir para a prisão -, uma profusão de nomes conservadores, especialmente governadores, ensaia-se para a disputa pelo Planalto. E o mesmo vai acontecendo nas corridas regionais nos estados, para governador e senador. O Distrito Federal é um exemplo concreto de como isso vai se dando.
Ibaneis
Nos últimos dias, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), deu seguidos sinais de profunda irritação no Palácio do Buriti. A razão da sua insatisfação foi o anúncio oficial de que o PL pretende lançar a deputada Bia Kicis como candidata ao Senado pelo partido.
Embolado
Já tínhamos dito aqui no Correio Político que a disputa pelas duas vagas do DF no Senado poderia ficar bem embolada. A entrada de Bia Kicis no jogo pode atrapalhar muito a construção de uma aliança que permita que uma dessas vagas fique para Ibaneis, como pretendia.
Arruda desarrumou o jogo imaginado por Ibaneis

Arruda deve disputar DF pelo PSD | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Até há bem pouco tempo, Ibaneis parecia ter o controle tranquilo do que planejava para seu futuro político. A vice-governadora Celina Leão (PP) se tornaria sua sucessora, com o seu apoio. E ele caminharia sem maiores problemas para se tornar senador. A entrada em campo do ex-governador José Roberto Arruda desarrumou tudo. Arruda deverá se filiar ao PSD para disputar o Buriti. Com uma condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Arruda acha, porém, que a recente modificação na Lei da Ficha Limpa, que Lula sancionou, a essa altura não o deixa mais inelegível. Se seu entendimento estiver certo, ele está no páreo.
Senado
Como Arruda ainda nem se filiou ao PSD, não se sabe que nomes comporiam sua chapa para o Senado. Mas, se ele entrar forte como parece, pode vir a puxar para as vagas nomes do campo conservador. Como, talvez, o deputado federal Fred Linhares (Republicanos).
Michelle
As pesquisas apontam grande chance de uma das vagas para o Senado ser de Michelle Bolsonaro (PL). Se o PL tiver Bia Kicis como outro nome, complica-se a vida de Ibaneis. A não ser que o PL esteja fora da aliança para eleger Celina Leão governadora do Distrito Federal.
Belmonte
Outro fator a embolar o jogo pela direita é a aliança entre a deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania) e o ex-senador José Antonio Reguffe (Solidariedade). Uma aliança pelo centro que pode tirar votos da direita. Reguffe é sempre um nome bem votado no DF.
Esquerda
Toda essa movimentação pode acabar dividindo o campo. Especialmente se quebrar a chance de uma única chapa. Aí, talvez a esquerda possa beliscar votos. Levantamento do Paraná Pesquisas mostra Michelle e Ibaneis à frente. Mas Leila Barros (PDT) não está tão longe.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Bia Kicis desarruma o jogo de Ibaneis | Bruno Spada/Câmara dos Deputados




