Por RUDOLFO LAGO*
A entrevista que Lula deu no Ceará na sexta-feira (11) foi já um grande avanço frente à avaliação panglossiana que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a nota da executiva do partido tinham antes feito com relação ao desempenho nas eleições municipais. Lula admitiu o que era óbvio, e Gleisi e a executiva se recusavam a enxergar: o PT foi mal. E, a partir dessa constatação, começou a fazer o que realisticamente é preciso fazer a partir disso: tentar entender por que o PT foi mal. Na própria entrevista e nas suas redes sociais, o presidente começou a esboçar um diagnóstico, mas ainda não propôs exatamente o remédio. O tempo de Lula é curto. Terá só dois anos para curar a atual doença política que atrapalha o desempenho do seu partido.
Desconexão
Lula parece ter começado a compreender que há, no momento, uma desconexão entre os discursos e estratégias do PT e as mudanças que aconteceram no mundo. Numa entrevista ao Estadão, o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, foi certeiro: “O PT envelheceu”.
Trabalho
Lula foca essa desconexão nas relações de trabalho. A origem sindical do PT foi importante para sua consolidação em outro momento, no qual trabalhadores buscavam seus direitos na relação com seus patrões. Agora, muitos não querem mais ter patrões.
A exploração continua. Mas PT não tem resposta
Motoristas de aplicativos, entregadores, mas também profissionais de informática e outras atividades vão nessa linha. Que não resolve o problema da exploração do capital. Digam bem os motoristas de aplicativos. A questão, porém, é que o governo e o PT enxergaram até aqui o problema com as lentes antigas do sindicalismo. Isso ficou claro na forma como propuseram a regulamentação dos aplicativos. Sem discutir previamente com o setor, quiseram aproximar a atividade da contratação via CLT. A reação foi a pior possível. A verdade é que o governo não tem hoje uma linha clara para atender a esse novo tipo de profissional.
Comunicação
A questão das novas relações de trabalho não é o único problema. O que claramente o novo governo vem avançando na área social? Não se sabe. O governo se comunica mal. E sabe disso. Mais do que isso: perdeu boa parte dos seus pontos de contato com a periferia.
Evangélicos
Boa parte da conexão que antes o PT tinha com a periferia dava-se com as comunidades eclesiais de base da igreja católica. Hoje, esse espaço é dominado pelas igrejas evangélicas. Com um discurso conservador que distancia o PT e a esquerda, com seu discurso identitário.
Edinho
Dentro do governo, há quem avalie que uma sacudida possa ser dada com a substituição de Gleisi Hoffmann pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva, na presidência do PT. Ex-secretário de Comunicação da Presidência, Edinho poderia arejar o discurso.
Derrota
Essa avaliação, no entanto, começara a ser feita quando o governo tinha certeza de que o PT venceria em Araraquara com Elaine Honan. O PT perdeu. O próximo prefeito de Araraquara será do PL, o principal partido adversário do PT, com a vitória de Dr. Lapena.
*Rudofo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Artigo originalmente publicado no Correio da Manhã / Brasília
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Foto: Ricardo Stuckert/PR




