Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Quando do julgamento na 1a Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que aceitou a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete por tentativa de golpe de Estado, comentamos por aqui como a estratégia política se chocava com a estratégia jurídica. No julgamento, nenhum dos advogados foi pela linha de negar a trama do golpe. Tratava apenas de negar a participação do cliente. Já ficava claro que nenhum dos sete tinha muita esperança no campo jurídico. Então, apostava no campo político. Onde o golpe era negado, e os ministros e o rito duramente atacados. Se essas diferenças atrapalham os advogados, agora o risco está na estratégia política. No domingo (6), a tática das ruas chocou-se com a política.
No laço
Na terça-feira (8), o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, foi para o desembarque do aeroporto tentar caçar deputados no laço para que dessem apoio à anistia. A atitude deixou clara a sua dificuldade. Sóstenes não consegue ter o apoio mínimo de 257 deputados.
Malafaia
No domingo, o pastor Silas Malafaia, que organizou o ato, foi duríssimo com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O chamou de “vergonha da Paraíba”. A pressão agressiva surtiu o efeito contrário: Motta disse que o projeto não era prioridade.
Ataque aos militares colocou Mourão contra o pastor

Mourão não poupou Malafaia: “Falastrão” | Foto: TV Brasil
Mais grave foi o ataque de Silas Malafaia aos comandantes do Exército. Ele os chamou de “frouxos” por não reagirem à prisão do general Walter Braga Netto. Ou seja: se, para Malafaia, golpe não houve antes, agora parecia ser um golpe o que sugeria. O resultado prático é que o autor de um dos projetos de anistia, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), bateu forte no pastor. General do Exército, Mourão chamou Malafaia de “falastrão”. E disse que sua fala demonstrava “total falta de escrúpulos” e “desconhecimento do que seja Honra, Dever e Pátria”. A forma como se imaginou fazer a pressão sobre o Congresso não surtiu efeito.
EUA
Somou-se aos problemas que os aliados de Bolsonaro já viam na estratégia de pressão externa sobre o Congresso o nó que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu com suas medidas de tarifaço contra o resto do mundo. A chance de ajuda vinda de fora minguou.
Agro
Na semana passada, a bancada do agro já tinha feito o PL recuar da obstrução. Precisava votar o projeto que dá ao governo ferramentas de reciprocidade contra o tarifaço. Como seguir agora vendo em Trump um possível salvador se ele prejudica os interesses nacionais?
Implodido
Novamente, foi Hamilton Mourão quem pontuou o problema da aproximação com os EUA neste momento. Em discurso no Senado, ele afirmou que Trump “implodiu” o sistema de relações comerciais que ajudou a construir no planeta após a Segunda Guerra.
Tio Sam
“É hora de estarmos juntos”, discursou Mourão. “Ovacionar cegamente o ‘Tio Sam’ é fechar os olhos para a realidade mundial”, continuou. “O Brasil não precisa ter lado A ou lado B porque, em verdade, não nos serve nem o antiamericanismo infantil nem a bajulação”.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
.Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Ataques de Malafaia surtiram efeito contrário | Fernando Frazão/Agência Brasil
Uma resposta
Sensatez.
O eixo central desse artigo.