O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta quinta-feira em Belém, a cúpula preparatória que antecede a 30ª Conferência das Partes sobre clima (COP30). Em discurso com tom de alerta e apelo político, Lula disse que “é momento de levar a sério os alertas da ciência” e colocou a reunião como espaço para cobrar compromissos concretos sobre proteção de florestas, financiamento para adaptação e ações imediatas contra a crise climática.
A cúpula em Belém chega em momento delicado: pesquisadores e agências meteorológicas confirmam que a sequência de anos quentes e extremos climáticos já empurrou o planeta a níveis de aquecimento que exigem respostas urgentes — incluindo alertas recentes sobre 2024 como ano recorde em temperatura média global. A retórica científica deu o tom do encontro e pressiona por medidas que não fiquem apenas no campo retórico.
Quem veio e o que está em jogo
Ao menos 70 chefes de Estado e representantes de governos chegaram a Belém para a cúpula e para a COP30, que começa formalmente na próxima segunda-feira, 10 — um sinal da importância política do encontro e da tentativa de dar dimensão multilaterial ao debate sobre clima e florestas. A presença maciça de delegações cria uma oportunidade de negociação de alto nível sobre financiamento climático e políticas de conservação, mas também expõe tensões geopolíticas e interesses comerciais que rondam acordos desse tipo.
Entre os eixos mais debatidos estão:
- Financiamento para mitigação e adaptação (incluindo debate sobre perda e dano);
- Proteção de florestas tropicais e financiamento a cadeias produtivas sustentáveis;
- Mecanismos de cooperação Sul–Sul e recursos para povos indígenas e comunidades tradicionais;
- Regras para comércio de créditos de carbono e transparência em metas nacionais (NDCs). As negociações terão caráter técnico e político — e a pressão da sociedade civil e cientistas será decisiva para marcar o tom das decisões.
Anúncio de um fundo e a diplomacia ambiental brasileira
No palco em Belém foi anunciado pelo governo federal um instrumento internacional voltado à conservação de florestas tropicais — um esforço para captar recursos que ajudem a frear o desmatamento e financiar programas de restauração e proteção. O governo aponta que a iniciativa visa atrair contribuições públicas e privadas para criar um mecanismo de financiamento de longo prazo para biomas tropicais. O anúncio busca, também, reforçar a liderança do Brasil nas pautas florestais em um ano em que o país sedia reuniões climáticas de peso.
A iniciativa terá de provar que combina escala financeira com salvaguardas ambientais e sociais — isto é, que não repasse riscos e custos aos povos indígenas nem permita “soluções” que favoreçam interesses empresariais predatórios. Observadores internacionais e ONGs já sinalizam que detalhes como governança do fundo, critérios de elegibilidade e mecanismos de prestação de contas serão os pontos decisivos para avaliar a seriedade do instrumento.
Agenda prática da COP30 e os desafios técnicos
A COP30 terá sobre a mesa decisões técnicas (contabilidade de emissões, mercado de carbono, regras de transparência) e políticas (financiamento para perdas e danos, metas de redução mais ambiciosas). A expectativa é que esta etapa sirva para fortalecer compromissos em torno de conservação de florestas, oceanos e mecanismos de transição justa para trabalhadores afetados por descarbonização.
Do ponto de vista prático, três desafios se destacam:
- Mobilizar recursos novos e previsíveis — sem sobrecarregar países do Sul com instrumentos de dívida;
- Garantir participação efetiva de povos tradicionais — que são guardiões das florestas, mas frequentemente excluídos das decisões;
- Conectar compromissos internacionais a políticas domésticas — redução do desmatamento exige leis, fiscalização e fundos permanentes.
Pressão da sociedade civil e cientistas
Organizações da sociedade civil, cientistas e movimentos indígenas chegaram a Belém com pautas claras: exigir metas reais de proteção do território, mecanismos de reparação para comunidades atingidas pela crise climática e salvaguardas que impeçam a “financeirização” da natureza. A cúpula preparatória — e a COP30 em seguida — serão palco de convergência entre ciência, ativismo e negociações diplomáticas.
O que vigiar nos próximos dias
- A redação final de compromissos sobre florestas: serão definidas metas e mecanismos práticos ou ficarão em termos vagos?
- Detalhes do fundo florestal anunciado: fontes, governança e prazos de desembolso.
- Soluções para perdas e danos: haverá comprometimento financeiro substancial por parte dos países ricos?
- Transparência e participação indígena: serão etapas do processo tomadas com consulta plena e prévia?
Imagem destacada: Bruno Peres/Agência Brasil




