Claudia Cardinale, ícone do cinema italiano, morre aos 87 anos

translate

claudia-cardinale-era-uma-vez-no-oeste

A atriz Claudia Cardinale, uma das grandes damas do cinema europeu e rosto de filmes clássicos como O Leopardo e Oito e Meio, morreu nesta terça-feira (23), em Paris, aos 87 anos. A informação foi confirmada por seu agente, Laurent Savry, à agência AFP. A causa da morte não foi divulgada. Ela estava acompanhada pelos filhos, Patrick e Claudia.

Nascida em 1938, na Tunísia, filha de pais sicilianos, Cardinale foi revelada ainda adolescente ao ser eleita “a italiana mais bela” de seu país natal. Como prêmio, ganhou uma viagem ao Festival de Veneza, onde despertou o interesse de produtores de cinema. Relutou em aceitar os convites, já que à época estava grávida de seu primeiro filho, Patrick — fruto de um estupro, como revelou anos depois ao jornal francês Le Monde.

Apesar da resistência inicial, foi lançada pelo produtor Franco Cristaldi, com quem se casou e manteve contrato por quase duas décadas. Mesmo sem dominar o italiano no início da carreira, rapidamente se tornou uma das atrizes mais requisitadas da Europa, disputando espaço com Sophia Loren, Monica Vitti e Gina Lollobrigida.

Estrela da transformação do cinema europeu

Em uma trajetória de mais de seis décadas e mais de cem papéis, Claudia Cardinale marcou gerações ao interpretar personagens complexas, que transitavam entre sedução e inocência. Em Oito e Meio (1963), de Federico Fellini, deu vida à mulher idealizada pelo protagonista. No mesmo ano, em O Leopardo, de Luchino Visconti, foi Angelica Sedara, símbolo de uma Itália vibrante e em transformação — filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes. Já em A Pantera Cor-de-Rosa (1963), de Blake Edwards, exibiu leveza cômica. E em Era uma Vez no Oeste (1968), de Sergio Leone, conquistou o público como a viúva sedutora que carrega a narrativa do faroeste.

Cardinale se destacou por recusar a nudez em cena, apostando no erotismo sugerido e na força de sua presença. Tornou-se musa de uma geração que redefiniu a sétima arte nos anos 1960, quando a Europa, entre o neorrealismo italiano e a nouvelle vague francesa, assumiu protagonismo cultural e influenciou Hollywood.

Vida pessoal e grandes amores

Sua vida pessoal sempre foi discreta, mas cercada de rumores sobre relacionamentos com nomes como Steve McQueen, Jean-Paul Belmondo e Alain Delon. Confirmou ter recusado um flerte de Marlon Brando, ídolo de sua juventude. Após separar-se de Cristaldi, viveu até 2017 com o cineasta Pasquale Squitieri, a quem descrevia como “o grande amor da vida”. Com ele, teve a filha, Claudia.

Presença no Brasil e prêmios

Cardinale esteve diversas vezes no Brasil. Em 1967, rodou Uma Rosa para Todos, de Franco Rossi. Em 1982, participou das desafiadoras filmagens de Fitzcarraldo, de Werner Herzog, na Amazônia. Anos mais tarde, relembrou a experiência com humor: “Foi a maior aventura da minha vida. Filmava com centenas de índios seminus… quando voltei, tive que dançar duas horas com eles, ainda seminus”, contou, entre risos.

Em 2012, recebeu o prêmio Leon Cakoff durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, pelo conjunto da obra, e participou do filme O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira.

Ao longo da carreira, foi homenageada em festivais como Veneza, Berlim e Cannes. Em 2017, sua imagem estampou o pôster oficial do Festival de Cannes, mas o cartaz gerou polêmica após ser revelado que suas coxas haviam sido retocadas digitalmente.

Legado cultural e ativismo

Além de sua relevância artística, Claudia Cardinale foi embaixadora da Unesco para os direitos da mulher, reforçando seu compromisso social. Sua influência atravessou o cinema, a literatura e a música — Caetano Veloso citou as “Cardinales bonitas” em Alegria, Alegria. Inspirou ainda personagens literárias, como Claudia de Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice.

Figura central do cinema europeu dos anos 1960 e 1970, Cardinale transformou-se em mito cultural: uma atriz que aliava beleza, talento e independência em uma época em que mulheres começavam a ocupar papéis centrais e densos, dentro e fora das telas.

Seu agente resumiu seu legado: “Ela nos deixa a herança de uma mulher livre e inspiradora, tanto como artista quanto como pessoa”.

Foto destacada: Claudia Cardinale em cena de ‘Era uma vez no Oeste’ – Divulgação

Receba as novidades no seu email

* indica obrigatório

Intuit Mailchimp

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia..

Gostou do texto? Tem críticas, correções ou complementações a fazer? Quer elogiar?

Deixe aqui o seu comentário.

Os comentários não representam a opinião da RED. A responsabilidade é do comentador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress

Gostou do Conteúdo?

Considere apoiar o trabalho da RED para que possamos continuar produzindo

Toda ajuda é bem vinda! Faça uma contribuição única ou doe um valor mensalmente

Informação, Análise e Diálogo no Campo Democrático

Faça Parte do Nosso Grupo de Whatsapp

Fique por dentro das notícias e do debate democrático