Por SOLON SALDANHA*
Em especial no outono, mas também algumas vezes durante o inverno, o céu de Porto Alegre é tomado por um azul profundo. Algo muito lindo de se ver – mesmo com a fama maior ainda sendo a do pôr do sol –, com luminosidade daquelas com as quais sonham os fotógrafos. Esses dias em geral são frios, porém não muito, com o sol aquecendo a pele ao mesmo tempo em que os olhos estão embevecidos. Se torna uma delícia andar pelas ruas, pelas praças e parques. Pois o dia de hoje amanheceu assim. Um 12 de setembro tão radiante quanto memorável, que parecia superar seu encanto habitual.
Talvez porque a véspera nos brindara com algo também muito especial, que é a sensação da justiça sendo feita. O que contribuiu para ser essa sexta-feira tão leve quanto não acontecia desde 2018. Como se, mesmo felizmente sem chuva, algo estivesse escoado para o esgoto, voltando ao seu lugar, levado pelas bocas de lobo – bem diferente de quando se mostraram entupidas, na enchente do ano passado. Uma limpeza, um descarrego, uma libertação.
Hoje a Terra não está plana, as vacinas não têm chips nem estão sendo compradas com propina, orações são dedicadas a Deus ao invés de feitas para pneus, os extraterrestres não se preocupam com a política brasileira, não falta oxigênio em hospitais, não existe fila nas portas dos cemitérios, não se faz campanha pelo armamento da população, não mais se incentiva o garimpo ilegal e o desmatamento, nenhum avião de comitiva presidencial transporta drogas, não há gente buscando pés de galinha e ossos na tentativa desesperada de alimentar suas famílias. Milicianos deixaram de ser homenageados, as polícias estão menos aparelhadas e, pasmem, os militares estão cumprindo sua nobre missão constitucional, sendo nossa defesa contra riscos externos e não mais eles próprios uma constante ameaça interna. E a chance de quem nos levou a isso tudo retornar, ficou muito menor.
O desemprego diminuiu, a renda média da população aumentou, nossa balança comercial tem sucessivos superávits e programas sociais estão reduzindo a desigualdade. Está em andamento um esforço honesto no sentido de que as pessoas que ganham menos deixem de pagar tanto imposto de renda, com esse recaindo mais sobre quem tem condições melhores. Estão sendo implementadas políticas de apoio à agricultura familiar – que é de fato aquela que coloca comida na mesa de todos os brasileiros – e de baixo carbono. A infraestrutura educacional voltou a receber recursos e foi ampliada a merenda escolar. As universidades estão retomando seu papel de indução ao desenvolvimento, de berço de novas tecnologias. O Brasil voltou a ser respeitado e ganhar destaque no exterior, inclusive ocupando papel de liderança em diversos organismos internacionais. E, talvez sendo essa a cereja do bolo, voltamos a sair do famigerado “mapa da fome”.
Assim, com essas razões citadas no parágrafo anterior e que são apenas parte do que temos vivido, como não se ter vontade de olhar com muito maior atenção e mais prazer para um céu azul? O que talvez mude hoje é o ganho de quem apostar no 27, no patrimônio nacional que é o Jogo do Bicho. Como muitos mais farão sua fezinha nessa dezena, com quase absoluta certeza ela será rebaixada. O que importa pouco, uma vez que todos nós já fomos premiados, antes de qualquer sorteio, com valores muito maiores: justiça, humanidade, ética, dignidade e respeito. Muito obrigado, STF!
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*Solon Saldanha é jornalista e blogueiro.
Texto publicado originalmente no Blog Virtualidades.
Foto de capa: PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC




