By PCC

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Por ANGELO CAVALCANTE*

Erra feio quem pensa que o PCC é aquele grupo criminal socado n’alguma quebrada da capital paulistana, vivendo ou sobrevivendo escondido, socado em um barraco imundo, sem água, privada ou energia elétrica.

Erra muito e com força quem acha que essa sofisticada forma de organização criminosa está essencialmente posta, lançada e limitada em alguma periferia brasileira, disputando, na base do tiro e da violência, territórios para a venda de drogas e entorpecentes.

Aquela visão de um criminoso cheio, chapado de tatuagens, com bermudão, chinelo, sem camisa e carregando um fuzil sobre os ombros é antiga, arcaica e não condiz com a realidade.

Antes fosse assim!

Essa visão primitiva fez todo o sentido nos anos de 1980, 1990 e até o comecinho dos 2000… Para a modernose dos tempos atuais, isso é alegoria descabida e que nem de longe, explica o múltiplo fenômeno do assim dito, PCC.

Repara só, o Primeiro Comando da Capital (PCC) já é a maior, mais sofisticada e elaborada expressão disso e que tratamos por crime organizado.

Nascido da violência política e policial da maior economia brasileira, São Paulo, o PCC não pode ser entendido, traduzido fora do avanço e da realização do neoliberalismo como concepção e ação acerca da gestão de governo.

Esse “titã de mil cabeças”, o PCC, nasce, surge do vácuo, do vazio entre o mais aberto e escancarado desmonte estatal e um tipo único e singular de ação policial insuficiente, miúda, desprovida de inteligência tática e estratégica e denso, sobretudo, de midia, muita mídia.

É desse “não-tempo” que se ergue, se levanta esse e que é das decisivas bases e esteios do crime organizado ou hiper-organizado e operante de norte a sul, de leste a oeste e das praias, remansos e enseadas aos sertões desse país.

É uma multi-organização atuante desde a feitura de crimes abertos e reconhecidos como o tráfico nacional e internacional de armas e drogas até ao exigente e sofisticado exercício de converter recursos advindos do brutalismo e da bandidagem em, digamos assim, “dinheiro limpo”.

Olha… Isso de garantir “limpeza”, de justificar as montanhas e cordilheiras de dinheiros e recursos e que tais criminosos acionam e mobilizam é das partes mais difíceis e complexas.

É aí que o “organizado” do “crime organizado” entra em cena para valer e com todo seu aparato e expertise.

Como tornar milhões de reais e advindos de toneladas de cocaína em dinheiro aceitável e admitido pelo sistema bancário e financeiro?

E meio bilhão de reais surgidos do tráfico de fertilizantes e agrotóxicos saídos da Bolívia, do Paraguai ou do Peru?

Como “normalizar”, como internalizar esses recursos? Como dinamizar tais valores no cotidiano circular, mecânico e previsível da economia brasileira?

Essas cifras entram no PIB brasileiro? Que conta, que contabilidade será essa?

Olha… Essa é operação muito exigente, sútil e refinada e que exige um sem-número de profissionais e que, nem de longe, a maioria das empresas brasileiras não possui.

Tem mais… Não bastam profissionais!

É preciso um estado débil, fraco, frágil e fragilizado; é necessário que estejamos subsumidos, enfiados e afundados em um conceito de Estado e que por sua vez, permita, que facilite a burla, o ataque e o próprio corrompimento de dispositivos institucionais básicos de registros, controles, de mensuração e ação.

Finalmente, é condição para o avanço, organização e capilarização do crime organizado como tal um padrão estatal corroído, fragilizado e enfraquecido pelas ondas de um neoliberalismo carnal e sanguinário e que, claro, capa, emascula o Estado em todos os seus campos e dimensões, notadamente, a segurança pública.

Nesses termos, o nosso crime organizado, já globalizado, mundializado e internacionalizado seria IMPOSSÍVEL com tais e quais características sem o neoliberalismo como condição fértil e definitiva para a sua plena e total realização.

É nessa conjugação sócio-hostórica que um bando criminoso enfiado em algum presídio do interior paulista se torna, se converte no maior consórcio criminal da América Latina e com negócios já espraiados em países como Espanha, França e Portugal.

Nos interiores brasileiros, o PCC possui o condão de tornar seus largos dobrões criminosos, por exemplo, em postos de gasolina espraiados no norte/nordeste; em fazendas de gado, cana ou soja e espalhadas em Goiás ou no Mato Grosso.

Essa “mágica” criminal adquire máquinas agrícolas, implementos e outros caros recursos tecnológicos e dispostos no promissor “agro” brasileiro.

O PCC e seus congêneres, como um cancro, um câncer, devoram a República pelo seu dentro; por suas intimidades e delicadezas.

Geram esperanças para a juventude miserável do país, oferece horizontes possíveis e disponibiliza condições de ingresso.

Estão na política, financiam políticos, bancam campanhas, compram votos, fazem discursos moralistas e, se espantem, em favor da segurança pública.

O neoliberalismo é o “papai” direto desse flagelo e que já tornou, já converteu o Brasil em um sub-país gerido e administrado pelo mais aberto e escancarado crime organizado.

De outro modo, subir morros e colinas cariocas e impiedosamente explodir corpos negros e proletários é parte da concertação ideo-imaginária e que quer nos fazer crer de que o estado neoliberal brasileiro combate o banditismo e que, não por menos, ele mesmo criou.

Não há combate!

É cena, jogo-de-cena e performance midiática para convencer um populacho bestializado e agressivo de que o “bem vencerá o mal”.

Não vencerá!

E o caminho possível para um efetivo enfrentamento a isso e que tratamos por “crime organizado” é o resgate do Estado brasileiro das unhas e perversões de um capitalismo rentista, parasitário e todo ele assentado na lógica da usura, da especulação e do anti-valor.


*Angelo Cavalcante é economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.

E-mail : angelo.cavalcante@ueg.br

Foto de capa: Maior roubo da história do Rio Grande do Sul teve parceria entre PCC e Bala na Cara. | Frame câmeras de segurança Aeroporto Caxias do Sul/Imagem cedida pelo MPF

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