Por EDELBERTO BEHS*
Enquanto o Brasil responde por 1,5% do comércio mundial, a região Amazônica, com a maior floresta tropical do mundo, rica em minérios e produtos sustentáveis, participa com apenas 0,17%. Com um percentual equivalente ao do país, todo ano circulariam 2,3 bilhões de dólares na Amazônia.
O cálculo é do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBasil) e ex-governador do Acre, Jorge Viana, ao participar do evento que o PT e a Fundação Perseu Abramo organizaram em fevereiro, no Rio de Janeiro, pela comemoração dos 45 anos de fundação do partido político.
O Brasil, disse, exportou 377 bilhões de dólares no ano passado; desse total, a Amazônia participou com apenas 27 bilhões de dólares e o Nordeste com 28 bilhões de dólares. Tirando, no entanto o Pará, com as exportações de minérios, o ganho do amazônida cai para apenas 7 bilhões de dólares!
Durante 50 anos, a Vale do Rio Doce exportou minério de ferro para o Japão, uma das maiores economias do mundo. “A Vale tem projetos lindos, sustentáveis, lá”. A Vale exporta 20 bilhões de dólares em minério de ferro para a China. “Mas o que é que ficou mesmo para os 30 milhões de pessoas que vivem na Amazônia?” – indagou.
A Amazônia, sustentou o presidente da Apex, tem 60 itens compatíveis com a floresta amazônica, que só podem ser produzidos em regiões tropicais, a faixa verde do planeta, entre eles café, pimenta do reino, cacau, castanha do Pará. Esses produtos geram aos países produtores 297 bilhões de dólares por ano. Mas o comércio amazônico participa com apenas 300 milhões de dólares daquele montante.
Em visita a África – Nigéria, Costa do Marfim, Gana e Senegal – Viana recolheu dados das exportações desses países no item produtos tropicais. A Costa do Marfim, que não é o país de origem da castanha de caju, é hoje o maior produtor do mundo. A origem da castanha é o Nordeste brasileiro.
A Costa do Marfim, que também não é a origem do cacau, produz um milhão de toneladas por ano; metade do cacau produzido no mundo vem de lá. A árvore é originária do Brasil. “Se um país africano pegou árvores da Amazônia e as transformou em uma atividade econômica altamente rentável, por que não fazemos o mesmo?”
O maior produtor de pimenta do reino do mundo, mencionou, é o Vietnã, que exporta 600 milhões de dólares por ano, enquanto a participação brasileira fica em apenas cem milhões de dólares. O maior exportador de Castanha do Pará é a Bolívia, que exporta 150 milhões de dólares. Já o Brasil fica com uma participação de apenas 10 milhões de dólares.
Dá para mudar radicalmente esse panorama, assinalou, “quando tivermos coragem de mudar radicalmente o crédito”. A COP, lembrou, trabalha com financiamento. “Se tiver um casamento desses recursos com atividades sustentáveis, que levem em conta as pessoas que vivem na Amazônia, a gente pode fazer uma grande e rápida mudança”.
Mas também nesse setor tem gol contra. Viana recorreu a levantamento realizado há pouco, o qual mostra que 89% dos prefeitos e 90% dos vereadores atuais dos municípios da Amazônia, e até mesmo alguns governadores (com exceção do Pará e do Amapá), são contra essa pauta. “Como vamos seguir com a COP30? Só sobrou o governo federal” para trazer melhores condições de vida aos 30 milhões da população amazônida.
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
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