Bolsonaristas marcham por anistia em Brasília enquanto Tarcísio debocha, em São Paulo, de tragédia com metanol

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Caminhada esvaziada e Coca Cola do Tarcísio - Imagem gerada por IA ChatGPT

Por CASTIGAT RIDENS*

A caminhada da solidão

Houve uma “caminhada” em Brasília, ontem (07/10). Os organizadores a chamaram de ato pela anistia ao “mito”. Mas o evento começou com um aviso que já era, em si, um epitáfio: “não importa a quantidade de pessoas, o que importa é a qualidade”. Quando alguém começa assim, é porque o vazio já tomou conta — das ruas e das ideias.

A procissão dos fiéis sem fé

De fato, as imagens falam por si. Uma Esplanada meio desértica, bandeiras meio murchas e oradores falando para um público que parecia mais um grupo de excursão perdida. A “anistia” pedida ao “mito” soou mais como um pedido de desculpas ao próprio constrangimento.

O bolsonarismo, que um dia se apresentou como tsunami, parece agora reduzido a um filete de rio raso — ainda barulhento, mas incapaz de mover sequer um moinho.

Mas não se trata apenas de um movimento em declínio: trata-se de um modo de estar no mundo. Um modo que despreza a realidade, transforma a tragédia em piada e a responsabilidade em marketing pessoal.

Tarcísio e o humor tóxico

Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas resolveu participar do espírito da semana com uma frase que sintetiza perfeitamente o DNA político do bolsonarismo: disse que só se preocuparia com a contaminação por metanol “quando a Coca-Cola fosse contaminada”.

A piada — se é que podemos chamá-la assim — veio no exato momento em que mais de duzentas pessoas já haviam sido intoxicadas, duas delas mortas e outras dezenas ainda sob análise médica.

O governador depois se desculpou, claro. Mas o pedido de perdão veio acompanhado de propaganda sobre a eficiência da sua gestão. É o arrependimento de vitrine: brilha sob a luz, mas não reflete nada.

Tarcísio repete, com notável precisão, o cinismo mortuário de Jair Bolsonaro durante a pandemia — o mesmo que, com piadas e omissões, ajudou a matar mais de 700 mil brasileiros. O mesmo que transformou o sofrimento coletivo em palco e o descaso em estilo.

A desfaçatez como método

Há uma coerência admirável, ainda que mórbida, nesse universo político: nada é levado a sério, nem a morte, nem a democracia, nem o próprio fracasso. A “caminhada” esvaziada e a piada de mau gosto são faces do mesmo fenômeno — o da desfaçatez elevada à categoria de ideologia.

O bolsonarismo não se extingue por vergonha, porque o cinismo é sua forma de respirar. Ri da dor, debocha da ética e se esconde atrás de desculpas burocráticas. E, no fundo, acredita que basta uma selfie sorridente para apagar a memória de suas catástrofes.

Mas a história, como se sabe, tem pouca paciência com farsantes reincidentes. E mesmo que o “mito” continue a inspirar romarias melancólicas a Brasília, a realidade — essa chata insistente — já começou a cobrar a conta.

*Castigat Ridens

“Castigat Ridens” é um pseudônimo criado a partir da expressão latina “Castigat ridendo mores”, que significa “corrige os costumes rindo” ou “critica a sociedade pelo riso”, muito usada no contexto da comédia como instrumento de crítica social.

Ilustração da capa: Caminhada esvaziada e Coca Cola do Tarcísio – Imagem gerada por IA ChatGPT


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