Balanço das Eleições Municipais: As Lições da Derrota em Poa

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Por ILTON FREITAS*

Não creio que os resultados das eleições municipais em nível nacional tenham sido “catastróficos” para a esquerda e para o governo do presidente Lula. Posto que ocorreu uma lenta recuperação no número de prefeituras conquistadas pelo PT em relação ao pleito de 2020, de 183 prefeituras para 252, e se conquistou a capital do Ceará, o que não se pode desprezar. E por mais controverso que possa parecer não é nada absurdo afirmar que os partidos que compõe a base aliada do governo federal (PSD, MDB, PP UB) e que foram bem sucedidos eleitoralmente, não denotam uma derrota ou uma desaprovação ao governo Lula. Outrossim, recordemos que nas eleições municipais predominam o paroquialismo, pois o impacto da disputa política nacional é severamente minimizado. Sendo assim e mantidas pouco alteradas as condições políticas e econômicas do presente, é de se supor que a candidatura á reeleição de Lula em 2026 – por mais paradoxal – deverá  se beneficiar dos resultados “catastróficos” dos pleitos municipais.

Entendo que não se pode abstrair para fins de uma análise o fato de que estamos a menos de dez anos do impeachment da presidente Dilma, e a poucos anos da prisão de Lula. Ou seja, o “tsunami” contra-revolucionário  que resultou na eleição da extrema direita em 2018, ainda se faz ressoar pelo País e impactou na atual composição conservadora do Congresso Nacional. Não podemos esquecer que o PT e a esquerda de modo geral, foram alvos de um jornalismo de guerra e do lawfare patrocinado pela “república de Curitiba”, que lograram certo êxito em criminalizar o petismo e suas lideranças. Sendo assim é preciso relativizar tanto o “fracasso catastrófico” da esquerda, como o avanço “avassalador” do campo conservador e da extrema direita.

Por outro lado, avaliar cada caso eleitoral e suas respectivas especificidades podem trazer lições para o campo progressista. Vejamos as eleições para prefeito em Porto Alegre. Se considerarmos os resultados do primeiro turno é insofismável reconhecer que o campo de oposição de esquerda e de centro representados por PT e PDT, lograram um bom resultado. Maria do Rosário e Juliana Brizola perfizeram 45.97% dos votos válidos, contra 49,72% de Melo (MDB). Ou seja, a boa performance eleitoral da oposição impediu a vitória do atual prefeito na primeira volta das eleições, o que de certo modo refletiu o desgaste de Melo pela péssima administração da prefeitura por ocasião da enchente de Maio. Mas infelizmente no segundo turno o resultado pró Melo foi contundente, 61,53% dos votos válidos, contra 38,47% para Maria do Rosário, o que denotou a já sabida grande rejeição eleitoral da Deputada Maria do Rosário. Recordemos que contra o mesmo candidato há quatro anos, Manuela D’ávila , numa conjuntura muito mais complicada, logrou 45% dos votos válidos, isto é, a candidata do PT nesse ano e numa conjuntura mais favorável teve um resultado pior. O que poderíamos sugerir como tentativa de explicação do fracasso eleitoral do PT em Poa no segundo turno?

O bom resultado da oposição dividida no primeiro turno foram taxativos em revelar que houvesse capacidade política para fazer com que PT e PDT marchassem unificados, o resultado poderia ter sido ainda melhor. Talvez se os mandatos e os dirigentes partidários se fixassem mais na construção de processos do que em nomes para uma disputa eleitoral, a resultante seriam candidaturas mais potentes eleitoralmente.

Há inúmeros processos que poderiam ser acordados para fins de inovação das escolhas dos representantes do campo progressista. Desde eleições primárias até processos de democracia deliberativa com participação de filiados e eleitores que de fato tenham o empoderamento suficiente para se reconhecerem como atores ativos da construção de candidaturas do campo de esquerda. Creio que caberia ao PT, por ser o principal partido de oposição na cidade e no Estado, propor inovações no processo de definições e de escolhas de candidaturas. Do jeito que são deliberadas as escolhas dos representantes para as chapas majoritárias atualmente, o processo decisório repousa sobremaneira nos mandatos e nos dirigentes partidários. Creio que já passou da hora de inovar nos métodos e de radicalizar na democracia, caso queiramos que o PT vá além de uma máquina eleitoral com “muitos caciques e poucos índios.

 

 

 

*Ilton Freita é ex-pesquisador CEGOV/UFRGS e Cientista Político.

Foto de capa:  Reprodução/ RBS TV

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

 

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