As cicatrizes do planeta

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Por CELSO JAPIASSU*

Em 2025, o mundo continua marcado por conflitos armados. A guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, destaca-se como a mais grave crise humanitária da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. As estimativas revelam que já morreram nesse conflito cerca de 700 mil pessoas até agora. Milhões foram forçadas a abandonar suas casas e a economia global acusa os graves impactos de uma guerra em pleno território europeu.

A atmosfera tóxica do mundo não está presente apenas na deterioração do clima e outras ameaças para as novas gerações que vão habitar o planeta. O ambiente internacional mostra-se a cada dia mais irrespirável, os conflitos fazem parte do cardápio geopolítico e anunciam-se mais radicais para o futuro.

Junto com a tragédia no Oriente Médio, onde ocorre um genocídio praticado pelas forças armadas de Israel e que já fez, em Gaza, 63.500 mortos, até o momento em que escrevo este texto. Os diversos conflitos regionais espalhados pelo mundo acenam para o que muitos veem como o prenúncio de uma Terceira Guerra Mundial. Outros dizem que ela já está em curso.

Os riscos

Uma frase atribuída a Albert Einstein reza que, se houver uma guerra nuclear, a próxima será com paus e pedras, pois as civilizações seriam reduzidas a um estado primitivo.

A existência de armas nucleares em diversos países, como Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Paquistão e Coreia do Norte, representa um forte risco de conflito global. Um erro de cálculo ou um ataque nuclear acidental poderia desencadear uma guerra devastadora.

As tensões geopolíticas em diversas regiões, como no Oriente Médio, Ásia Oriental e Europa Oriental, podem facilmente escalar para conflitos de maior escala, envolvendo potências internacionais.

A crescente dependência de tecnologias digitais torna os países vulneráveis a ataques cibernéticos sofisticados, com graves consequências económicas e sociais, e até levar a um conflito militar.

O crescimento de ideologias extremistas de direita, com ingredientes de populismo e nacionalismo, pode levar a um aumento da militarização e a uma política externa agressiva, fazendo crescer o risco de conflitos entre países.

Os grupos terroristas internacionais, a exemplo do Estado Islâmico, podem utilizar armas de destruição em massa, nucleares ou químicas, com grande número de mortes disseminando o terror e conduzindo a uma retaliação militar.

A escassez de recursos naturais, como água e alimentos, causada pelas mudanças climáticas, pode levar a conflitos internacionais por esses recursos, com o consequente risco de uma guerra global.

O desenvolvimento de armas autônomas e letais, impulsionado pela inteligência artificial, pode levar a uma nova corrida armamentista e aumentar o risco de uma guerra acidental ou não intencional.

A proliferação de notícias falsas e propaganda online pode manipular a opinião pública e gerar desconfiança entre os países, dificultando a resolução pacífica de conflitos.

Os conflitos

Embora a guerra na Ucrânia e a tragédia da Palestina dominem o noticiário, outros conflitos continuam em diferentes regiões, como no Oriente Médio, onde a guerra civil na Síria, que já dura mais de uma década e que apesar das manchetes ainda não terminou, provocou uma crise humanitária com milhões de refugiados e deslocados internos. No Iêmen, uma guerra civil brutal alimentada por intervenções estrangeiras causa fome, doenças e devastação.

O continente africano é palco de diversos conflitos armados, como na região do Sahel.

O Sahel é uma região da África que se estende entre o deserto do Saara ao norte e as savanas do Sudão ao sul, formando um corredor semiárido de aproximadamente 500 a 700 km de largura e 5.400 km de comprimento. Esta faixa geográfica atravessa vários países, incluindo Gâmbia, Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, Nigéria, Chade, Sudão e Eritreia, entre outros, onde grupos jihadistas lutam contra governos e forças internacionais.

 No Sudão do Sul, a guerra civil entre facções rivais mergulhou o país na pobreza e na violência.

Na Asia, a guerra civil no Afeganistão, após a tomada do poder pelo Talibã em 2021, gera instabilidade e insegurança. A disputa territorial entre China e Índia na região de Caxemira representa uma crise até agora sem solução.

No México, a guerra contra o narcotráfico se intensifica, com grupos criminosos disputando territórios e aterrorizando a população. Na Colômbia, o conflito entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) ainda não terminou, apesar do acordo de paz de 2016.

As consequências

Milhares de pessoas são mortas e feridas em conflitos armados todos os anos. A guerra também causa traumas psicológicos, fome, doenças e a perda de casas e bens materiais. Os conflitos geram milhões de refugiados e deslocados internos, que precisam de abrigo, comida, água potável e cuidados médicos. A crise humanitária coloca em risco a vida de milhões de pessoas, especialmente crianças e mulheres.

Além dos riscos de se expandirem, os conflitos fragilizam os países, impedem o desenvolvimento econômico e social e conduzem à radicalização e ao extremismo. O diálogo e a negociação, diz um documento da ONU, são ferramentas essenciais para alcançar a paz duradoura. Ações de prevenção de conflitos, como o investimento em desenvolvimento social e na promoção dos direitos humanos são fundamentais.

Encerro com uma citação filosófica.

Arthur Schopenhauer, autor de “As Dores do Mundo”, via a guerra como uma expressão radical da irracionalidade e da natureza conflituosa da vontade humana. Segundo ele, a história da humanidade é marcada por guerras e sedições, com os períodos de paz sendo apenas raros intervalos entre conflitos. Em suas palavras, “a vida é uma guerra sem tréguas, e morre-se com as armas na mão,” evidenciando que o combate ocorre não só contra males abstratos, mas também diretamente entre os próprios homens.


*Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).

Foto de capa: Foto mostra prédio que pegou fogo após ataque russo em Kharkiv no dia 2 de março de 2022 | Serviço de Emergência da Ucrânia/AFP

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