A cerimônia da manhã desta quarta-feira, 26, para oficializar a nova lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5 mil — um dos anúncios de maior apelo social do governo em 2025 — ocorreu sem a presença dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), apesar de terem sido atores centrais na aprovação da proposta no Congresso.
Segundo as assessorias das duas Casas, ambos tinham compromissos previamente agendados e não enviaram representantes. A ausência surpreendeu integrantes do governo, que esperavam discursos dos presidentes como gesto de consenso institucional após a tramitação acelerada da medida.
A isenção sancionada por Lula passa a valer a partir de 2026 e beneficiará especialmente trabalhadores de baixa e média renda, que vinham sendo pressionados pela defasagem histórica da tabela do IR.
Clima político pesa sobre cerimônia
Embora oficialmente atribuída a conflitos de agenda, a ausência simultânea de Alcolumbre e Motta ocorre em meio a um momento de tensão latente entre Legislativo e Executivo. Nos bastidores, parlamentares apontam que a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal — contrariando preferências de parte da cúpula do Congresso — teria ampliado o distanciamento.
Fontes próximas aos presidentes das duas Casas descrevem o gesto como um “sinal de desconforto” com o Planalto, sobretudo após semanas marcadas por disputas envolvendo nomeações, articulação política e o controle do Orçamento.
A opção por não comparecer justamente ao evento que celebraria uma conquista popular do governo dá contornos políticos a uma solenidade que deveria ser protocolar. Mesmo sem discursos contundentes, o gesto silencioso acabou falando mais alto.
No pano de fundo, o velho embate da governabilidade
Da metade para o fim do episódio, emerge um roteirista conhecido da política nacional: a fragilidade da coalizão. No Brasil, mesmo quando o governo entrega políticas de forte adesão social — como a correção da tabela do IR — os bastidores acabam definindo o tom da cena.
A ausência na cerimônia revela o quanto o Executivo ainda enfrenta dificuldade para estabilizar a relação com o Congresso, especialmente com lideranças que concentram poder regimental, controle de pautas e influência sobre votações estratégicas.
A ausência de Alcolumbre e Motta, portanto, não compromete a validade da lei, mas lança dúvidas sobre a fluidez dos próximos capítulos: pautas econômicas que ainda tramitam, negociações de fim de ano e, acima de tudo, a capacidade do governo de evitar que ruídos internos continuem eclipsando agendas de forte interesse público.
Imagem destacada: Divulgação redes sociais de Davi Alcolumbre




