A sereia do Parque da Redenção

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Por EDELBERTO BEHS*

Postou-se diante do laguinho do Parque da Redenção, em Porto Alegre, e ficou matutando. O dia estava lúgubre e a alma dele pior ainda. Não encontrava uma explicação para o que estava sentindo: angústia, ansiedade, vazio de espírito, descontentamento… Seria depressão?

Eis que nesse preciso instante passa por ele, de bicicleta, um colega de curso universitário e pergunta:

– Daí, João, o que fazes aí?

Surpreso com o interesse do colega, respondeu em tom jocoso, para animar um pouco o dia:

– Estou esperando a sereia aparecer.

– Sereia?

– Sim, faz uns três minutos ela estava tomando banho de sol no meio do lago.

O colega mal pôde esperar o tempo para estacionar a bicicleta e correu até o colega.

– Sereia? Como ela é? Bonita como nos contos?

– Linda, chê! Um rosto deslumbrante, cabelos compridos, loiros, encaracolados. Só as pernas destoam, pois são em forma de rabo de peixe.

– Não acredito. Sério?

– Claro que sim. Tu achas que eu ficaria parado aqui por horas sem ter um bom motivo? Nunca ouviste falar do monstro do Lago Ness? Então, se lá existe um monstro, por que não pode uma seria morar nesse laguinho?

Agora eram dois a mirar as águas, esperando, pelo menos um deles, o aparecimento da tal sereia.

Eis que caminha pelo parque uma amiga do colega do João. Vê os dois parados diante do laguinho e se dirige até lá.

– Oi, tão fazendo o que por aqui?

– O João viu uma sereia e estamos torcendo para que ela apareça de novo e volte a tomar banho de sol.

– Sereia? Aqui?

– Claro, respondeu o colega repetindo o argumento do João. Se existe monstro no lago Ness, por que não pode existir sereia por aqui?  E convenhamos, prefiro uma sereia a um monstro.

Agora eram três aguardando o aparecimento da tal seria. Em meia hora de espera, um povo estava postado junto ao lago. E cada vez o número de curiosos aumentava. A notícia espalhou-se pelas redes sociais. Também veio a imprensa. Não demorou muito, o parque recebeu gente de toda parte, tanto que foi preciso acionar a Brigada Militar, que designou três carros para a ronda no local e pediu o apoio do helicóptero da corporação para acompanhar o desfecho dessa história.

Anoiteceu e a sereia, vendo toda aquela balbúrdia e, encabulada talvez, não se expôs mais no Parque da Redenção. Tem gente que diz que isso tudo não passou de uma grande viagem. Outros prometeram voltar no dia seguinte para esperar a sereia.

Fato é que João, a essas alturas, dissipou qualquer mal-estar da alma que sentira naquele dia. Ele esquivou-se daquele tumulto todo, rindo de cara fechada para não dar na vista, e foi pra faculdade. Naquela noite estudaria, na cadeira de Teorias Contemporâneas da Comunicação o que é fake news.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: Hedestad/Wikipédia

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