Por ALEXANDRE CRUZ*
Victor Hugo certa vez escreveu: “Nada é mais poderoso do que uma ideia cuja hora chegou”. Ao longo da história, presenciamos momentos em que grandes transformações sociais e econômicas foram impulsionadas por ideias que, antes consideradas utópicas, tornaram-se realidade pela força da necessidade e da vontade popular. A abolição da escravidão, os direitos trabalhistas da Era Vargas, a emancipação feminina e o fim da ditadura militar no Brasil são exemplos de como determinadas pautas, quando amadurecem no tempo certo, ganham força e se tornam irreversíveis.
Atualmente, uma dessas ideias que ganha relevância é a necessidade de recuperar e fortalecer mecanismos públicos de desenvolvimento social e econômico. No Rio Grande do Sul, três instituições marcaram a história do estado por seu papel na promoção da justiça social e no combate às desigualdades: a Cohab, a Caixa Econômica Estadual e o Banco Sulbrasileiro. O desmonte dessas instituições não apenas representou um retrocesso em termos de políticas públicas, mas também ampliou a vulnerabilidade de milhares de famílias que antes contavam com o suporte dessas entidades.
A Cohab foi criada com o objetivo de garantir moradia digna para famílias de baixa renda, regulando o mercado imobiliário e combatendo a especulação. Ao ofertar habitação popular acessível, a Cohab permitia que milhares de brasileiros alcançassem o sonho da casa própria sem sucumbir a financiamentos abusivos ou à incerteza dos aluguéis inflacionados.
A Caixa Econômica Estadual e o Banco Sulbrasileiro desempenhavam papel fundamental no financiamento de projetos sociais, infraestrutura e apoio à agricultura familiar e às pequenas indústrias. A existência dessas instituições permitia que recursos fossem direcionados estratégica e prioritariamente para o desenvolvimento regional, sem a lógica predatória do lucro desenfreado que rege o sistema financeiro privado.
O fim dessas instituições deixou um vácuo. Hoje, a falta de uma política habitacional robusta, de financiamentos acessíveis para setores produtivos estratégicos e de um banco público voltado ao desenvolvimento regional faz com que o Estado dependa exclusivamente de soluções privadas, nem sempre alinhadas ao interesse da maioria da população.
Diante desse cenário, a pergunta que surge é: é possível recuperar essas entidades ou, ao menos, recriar mecanismos que cumpram seu papel essencial? A resposta não só é afirmativa, como também urgente. O fortalecimento do setor público é uma necessidade em tempos de crescente desigualdade e precarização das condições de vida.
A reconstrução dessas instituições, ou a criação de novas que cumpram suas funções, não se trata de um retrocesso, mas de uma estratégia de defesa social. Países desenvolvidos mantêm bancos públicos, políticas habitacionais ativas e mecanismos de regulação do mercado para proteger suas populações. Por que, então, o Brasil deveria abrir mão dessas ferramentas?
A esquerda precisa incorporar essa pauta com seriedade, articulando projetos que retomem essas instituições ou criem alternativas eficazes dentro da realidade atual. Recuperar a capacidade do Estado de intervir para garantir direitos é um dos grandes desafios políticos de nosso tempo.
Se a história nos ensina algo, é que grandes mudanças começam por uma ideia. E talvez estejamos, mais uma vez, diante de uma ideia cuja hora chegou.
*Alexandre Cruz é jornalista político.
Foto de capa: Anne Nascimento/Semulher
Uma resposta
Verifico uma grande co fusão; a Caixa Econômica Estadual foi uma criação do governador Leonel Brizola. Já a Cohab foi uma criação da ditadura. O Banco Sulbrasileiro era um banco privado de propriedade do Montepio da Família Militar que acabou falindo por péssima administração (prá dizer pouco).