A realidade em Gaza vai além da loucura, diz cardeal

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Por EDELBERTO BEHS*

Dos 2,1 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, 1,9 milhão está em situação de crise alimentar e perto de 100 mil mulheres e crianças sofrem de desnutrição aguda e precisam de tratamento urgente. “As pessoas estão morrendo todos os dias por falta de assistência humanitária e estamos vendo isso aumentar dia após dia”, declarou na semana passada o diretor de respostas de emergências do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA), Ross Smith.

Além de pedir a liberação do ingresso de caminhões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, Ross reivindicou a ausência de atores armados próximo dos pontos de distribuição de alimentos, perto dos comboios, e que as equipes de ajuda alcancem as pessoas onde elas estão e não em locais pré-determinados.

A cada semana a imprensa informa a morte de palestinos, inclusive de mulheres e crianças, atacados enquanto buscam comida e água nos postos pré-determinados. No passado, para caçar ratos dentro de casa, instalava-se ratoeiras com uma isca de queijo. O rato entrava na ratoeira para apanhar o queijo e quando o alcançava a armadilha se fechava.

Nazistas chamavam os judeus de ratos. E como ratos, o Exército de Israel caça, hoje, 75 anos após o Holocausto, palestinos famintos usando alimento e água como iscas numa armadilha. As denúncias têm várias fontes, desde Médicos Sem Fronteiras, ONU, Anistia Internacional, Caritas, Oxfam, Christian Aid, agências noticiosas, igrejas cristãs, defensores dos Direitos Humanos, agentes de ajuda humanitária.

“Em Gaza estamos além da loucura, está em ação o mal mais desenfreado e sem lógica. O assassinato de crianças na fila por um punhado de arroz clama por justiça a Deus”, declarou o cardeal arcebispo de Siena e Montepulciano, Dom Augusto Paolo Lojudice, em entrevista ao jornal La Stampa. Paolo esteve na Terra Santa e entrou em contato com cristãos e judeus.

Ele se pergunta “como pode alguém que comete tais atrocidades e tem dezenas de milhares de vítimas na consciência se olhar no espelho? Não há nada de razoável numa carnificina; é a maldade se instalando e apagando qualquer senso de humanidade”. Benjamin Netanyahu, aliás “Matanyahu”, parece que consegue.

Defensores da aniquilação de palestinos fundamentam-se em livros sagrados. “Quando se distorce o Antigo Testamento, se faz com que diga o que se quer. Nem todos os judeus fazem isso”, disse Paolo. Mas ele ouviu, em Jerusalém, grupos fundamentalistas recorrendo às Escrituras “como escudo para desrespeitar os direitos humanos”. Recorrer a esses textos é a tentativa de explicações.

 “A leitura fundamentalista da Bíblia clama pela destruição total do inimigo? Uma mistificação, porque ela fala em abater o mal, não em exterminar crianças”, analisou o cardeal. É preciso lembrar, concluiu, que não são alvos que estão sendo atingidos, mas pessoas com uma alma e dignidade. “Não é caçando um povo que se pacifica uma terra. Trabalhar juntos é a única maneira de proteger os inocentes. O que vi na Terra Santa é inaceitável”, disse.

Netanyahu não está sozinho nessa caçada humana. Na quarta-feira, 23 de julho, o Knesset, o Parlamento israelense, aprovou moção simbólica pedindo a anexação da Judeia e da Samaria – área chamada de Cisjordânia – como parte inseparável do Estado de Israel. “O Knesset determina que o Estado de Israel tem o direito natural histórico e legal a todas as áreas da Terra de Israel, a pátria histórica do povo judeu”, reza a moção, divulgada pelo All Israel News, de Jerusalém.

“Esta moção fortalecerá o Estado de Israel e sua segurança evitará qualquer desafio ao direito básico do povo judeu à paz e à segurança em sua terra natal”, diz o texto, que também se opõe a um Estado palestino no mesmo território. Após a votação, o presidente do Knesset, Amir Ohana, do Likud, disse que os “os judeus não podem ser os ‘ocupantes’ de uma terra que há 3 mil anos se chama Judeia”.

A votação do Knesset, aprovada por 71 a 3, não terá implicações práticas para o status do território da Judeia e Samaria, que tem sido governado por Israel e pela Autoridade Palestina, como definido nos Acordos de Oslo, de 1993. Atualmente, vivem na área, que inclui partes de Jerusalém Oriental, milhões de palestinos e cerca de 500 mil judeus.

O deputado democrata Gilad Kariv publicou no X que “a anexação da Judeia e Samaria é um perigo claro para o futuro do Estado de Israel e para o empreendimento sionista”. O recém-eleito vice-presidente da Autoridade Palestina, Hussein al-Sheik, definiu a votação do Knesset como uma “escalada perigosa que mina as perspectivas de paz, estabilidade e a solução de dois Estados”.

O Ministério das Relações Exteriores e Expatriados da Palestina rejeitou a moção, sustentando que tais “medidas coloniais” reforçam um sistema de “apartheid” e refletem um “flagrante desrespeito” a resoluções das Nações Unidas.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: A foto de grupo da visita eclesiástica do cardeal Pizzaballa e de Theophilos III à igreja da Sagrada Família de Gaza. DR/X/Patriarcado Latino de Jerusalém

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Respostas de 3

    1. Infelizmente o mundo assiste a essa crueldade e nada é feito para impedir qualquer ato desumano desses sionistas. Esses são verdadeiros terroristas hipócritas. Tem exemplo de seus avós e bisavós que vivenciaram o holocausto nazista e agora estão fazendo o mesmo com os palestinos. Covardes e vis sem alma, genocida de mulheres e crianças que vai em busca de comida. Os organismos internacionais e judiciário deveriam prender Natanyahu

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