Por ANGELO CAVALCANTE*
A prisão de Jair Bolsonaro, ainda que domiciliar, traz esperança!
É assim como se fora uma lufada de oxigênio nas narinas da própria democracia brasileira; ao fim e ao cabo, estamos por, pelo menos, dez longos e intensos anos imersos, subsumidos em uma miríade de conflitos e sem precedentes na própria história brasileira.
E mais… Não há prazo para o fim dessa guerra!
É um combinado de contradições, lutas e enfrentamentos que vão do ardil infame e que redundou no impeachment de uma presidente decente, passando pelas reformas ultraliberais de Temer, pelo acinte da condenação descabida de Lula para quase dois anos de prisão; daí, a esperada e consequente eleição de Bolsonaro e o trágico devastador de sua gestão; os levantes, abusos e conspirações que redundaram no “08/01” e, por fim, a própria escalada internacional desses conflitos ao ponto dessa situação se achegar nos escaninhos e na escrivaninha imperial do presidente dos Estados Unidos.
Não é exagero: o Brasil está no centro, no miolo de uma guerra global e deve se preparar para o que está por vir.
Retomo o princípio do florentino Maquiavel que ensina: “busquemos incessantemente pela paz mas estejamos prontamente preparados para a guerra”.
Essa é a condição para a própria existência da nação, da nacionalidade e do prevalecimento dos seus interesses.
A guerra, ora, ora… Já está em curso, já se realiza sob outros fenômenos e diante de nossos olhos… Acaso, o que pensam que é um Estado estrangeiro, de repente, nos impor as mais altas taxas e aduanas da história econômica recente?
E isso, atropelando instâncias internas de governo ou organismos multilaterais de regulação como a OMC e que arbitra sobre taxas, alíquotas e níveis de produção em escala global!
Ora, isso de impor taxas e sobretaxas sem consultar ou prestar contas para quem quer que seja é, de fato, um fragmento vivo e radioativo, uma reminiscência imperativa do brutalismo do próprio colonialismo e que tão profundamente definiu toda a América Latina.
Dêem uma “googlada” e vejam das razões, a título de exemplo, das nossas principais lutas e inconfidências? Reparem, ao período, o que a metrópole portuguesa não nos obrigou a pagar sistematicamente em dotes e impostos?
O senhor Trump busca, não por menos, reavivar, retomar, restaurar o período colonial!
Para o nosso caso, há ainda um componente perverso, invasivo, absurdo e que é a aberta e assumida intromissão nos próprios poderes da República!
Não há quem não se espante!
Vá dizer para o governo chinês como o seu judiciário deve funcionar? Determine para os russos quem deve e quem não deve ser preso? Exija que a atômica Coreia do Norte reveja decisões judiciais? Mais ainda… Intervenha na ilha revolucionária de Cuba? Exija a cassação de seus juízes!
Ora, a reação armada é imediata!
Isso jamais aconteceu, nem mesmo no mais alto e incendiário tempo da Guerra Fria!
Por aqui… Pode?
É sintomático e suspeito! Pode porque sempre pôde e em definitivo, não é correto afirmar em ufanismo abobalhado de que temos e temos dois séculos de relações diplomáticas com os Estados Unidos.
Essa afirmativa, tal e qual, dá a ideia, passa a noção de isonomia, de equivalência e paridade, o que nunca e jamais houve…
O Brasil sempre fora o principal laboratório de experimentos políticos e econômicos dos Estados Unidos.
Doutrinas, regras e ensaios “by USA” foram, em primeiro, aplicados aqui e depois, espalhados mundo afora.
Vargas percebeu esse cenário no quadro pré-Guerra; aliás, já havia um plano de invasão do Brasil caso o caudilho gaúcho não se perfilasse ante às forças aliadas.
O famigerado golpe de 1964 foi, todo ele, pensado, urdido e concebido apartir dos gabinetes do Pentágono e da Casa Branca; a tortura e o mais ligeiro e refinado ” modus ” de matar, nos foi ensinado, repassado por militares dos Estados Unidos. Mais ainda, o Brasil, sob o mando dos Estados Unidos, fora suporte, base e condição para todos os outros golpes e apetecidos na vizinhança.
Golpes acontecidos, por exemplo, no Uruguai, na Argentina ou no Chile tiveram a colaboração, a consulta e a participação direta e efetiva do Brasil.
Somos golpistas por tradição, trajetória e costume e esse vício tem origem: o império!
Para os dias de hoje, o estranhamento está no fato do Brasil ensaiar rupturas com os gringos; somos líderes nos BRICS, temos um largo rol de acordos e tratados comerciais táticos e estratégicos com o Oriente e somos, digamos assim, espécie de “Ásia” em pleno trópico.
Por fim, o conflito está dado e as reações imperiais já começaram; o império, de fato, contra-ataca!
Ao governo do sertanejo Lula cabe o diálogo, o entendimento e a capacidade de se situar em um cenário econômico global hipercomplexo que flerta com a alta tecnologia, o mais fino das inovações, o fascismo, a guerra e a esperança.
Porque, para além de Trump, temos inimigos internos, absolutamente descontrolados e dispostos, caso assim decidam, pelo terrorismo puro e simples contra o povo brasileiro.
O conflito é real, está dado e não há volta, não há escolha! É luta!
*Angelo Cavalcante é economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
Foto de capa: Redes Sociais/Divulgação





Uma resposta
Curto e grosso, disse tudo. Concordo inteiramente. A história não mente e nos mostra os parâmetros para entender o presente. Quem conhece a história do Brasil não se espanta com o que está acontecendo. A tradição golpista se repete, talvez apenas de forma mais descarada.