Por ILTON FREITAS*
Vamos direto ao ponto. O bloco neoliberal e bolsonarista liderado pelo prefeito Melo do MDB, no início do ano reunia certas condições para emplacar a reeleição para o governo municipal. A prefeitura era bem avaliada pelos setores médios e se vendia como a pedra de toque da modernidade com os empreendimentos no quarto distrito, abrangendo os bairros Floresta e São Geraldo. Com sua agenda neoliberal de estado mínimo e de demonização do setor público desinvestiram conscientemente na manutenção da cidade, privilegiaram as grandes empreiteiras e grupos econômicos às expensas do meio ambiente, privatizaram empresas públicas importantes como a CARRIS de transporte urbano, e se preparavam para vender o DMAE, a autarquia responsável pelo abastecimento, saneamento e drenagem de água. No auge do delírio neoliberal e nos marcos do projeto de privatização do Cais do Porto, o prefeito Melo e seu comparsa ideológico o governador Leite (PSDB) defenderam a destruição do muro da Avenida Mauá em troca de um sistema mais “eficiente” de contenção de uma eventual inundação.

Pois bem, tudo seguia mais ou menos em acordo com os planos privatistas de Melo e cia. No entanto, não que tenham sido pegos de surpresa, o governo municipal teve que manejar as enchentes de maio e seu séquito de destruição que se abateu sobre pelo menos a terça parte da cidade. De certo modo a enchente do rio/lago Guaíba estilhaçou o modelo neoliberal que governa a cidade desde 2005 (houve um certo interregno com o prefeito Fortunati entre 2013 e 2016, na época do PDT). As cheias do Guaíba demonstraram que um modelo radicado na especulação imobiliária desenfreada, no desinvestimento estatal, no extermínio das funções públicas do estado (caso do DEP) e do negacionismo climático não possuem nem presente, mas muito menos o futuro.
Por seu turno na memória coletiva de uma cidade de um milhão e quatrocentos mil habitantes, difícil será isentar de responsabilidades o prefeito e sua trupe de neoliberais e bolsonaristas pela destruição parcial e as consequências habitacionais e econômicas de pelo menos a terça parte do município. Estou falando dos efeitos funestos da enchente nos bairros Menino Deus, Praia de Belas, o Centro Histórico, dos bairros São Geraldo, Humaitá, Sarandi, mais o extremo sul, Guarujá, etc. Não se exagera quando se afirma que a eleição em Porto Alegre será monotemática, ou seja, a enchente e o fracasso administrativo da prefeitura. Fracasso mais do que evidenciado na incompetência em manter e de fazer funcionar um sistema bem desenhado de prevenção de enchentes com o muro da avenida Mauá, os diques de contenção e os equipamentos de drenagem como as casas de bombas, condutos, etc. Esse misto de incompetência e descalabro administrativo foi carimbado na testa do prefeito e dos paspalhos diretores do DMAE e secretários. Portanto, em consideração as características dos pleitos municipais que priorizam as questões paroquiais, a enchente, suas trágicas consequências e o fracasso administrativo de Melo ocupará o centro do debate político/eleitoral.
A tarefa da oposição de esquerda (PT/PSOL/PCdoB e aliados) liderada pela pré-candidata, a deputada federal Maria do Rosário (PT), consistirá em demonstrar a estreita vinculação da falência administrativa da prefeitura por ocasião da enchente, com o modelo neoliberal de desinvestimento estatal, absurda negligencia na manutenção dos equipamentos públicos, ausência de prevenção e com o negacionismo climático. Além de denunciar a incompetência intencional do prefeito Melo, a oposição popular deverá demonstrar aos eleitores porto-alegrenses as ações de reconstrução e de auxílio do governo do presidente Lula, sobretudo para aquelas pessoas que perderam tragicamente seus bens e que se viram afetadas material e moralmente com a inundação dos bairros, residências e demais dissabores ocasionados pela enchente. No fundamental é preciso demonstrar que o desastre ambiental se ampliou monstruosamente em nosso município, por conta de um modelo neoliberal/bolsonarista que faliu e contribuiu para a inaudita destruição de bairros populares e de classe média. E, no sentido inverso, ao fim e ao cabo foi o estado através das ações e programas do presidente Lula, é que está na vanguarda da reconstrução do município e no auxílio indispensável aos cidadãos direta e indiretamente vitimados pela catástrofe climática.
*Ilton Freitas, doutor em Ciência Política/UFRGS
Foto da capa: Juliano Verardi – Enchente em Porto Alegre/RS, Bairro Praia de Belas, Orla do Guaíba e Bairro Menino Deus – julianoverardi.com
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