2025, Rápido Balanço

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Por CELSO JAPIASSU*

Foi um ano em que a Humanidade, uma vez mais, defrontou-se com seu destino trágico de sangue, miséria e dor, crimes e guerras intermináveis. O mundo assistiu e viveu as ameaças do clima e seus cataclismos sem precedentes na história das dores humanas. Um tempo de avanços da tecnologia, mas também dos movimentos de extrema direita anunciando a repetição de eventos políticos que há cem anos tornaram o mundo mais triste e mais sombrio.

O conflito marcado pela destruição de Gaza e o genocídio palestino teve um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, acordado em 15 de janeiro depois de mais de um ano de guerra devastadora. Negociado em três fases, o acordo previa a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos. Mas a trégua revelou-se frágil: em 18 de abril, os combates recomeçaram após dois meses de pausa. Até hoje contam-se 70 mil mortos e mais de 170 mil feridos. A maioria era de crianças. Dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas.

A guerra na Ucrânia termina o ano num impasse militar e um aprofundamento da tragédia humana. A Rússia perdeu quase 300 mil militares e a Ucrânia conta perto de 2 milhões de mortos. Ao fim do ano, a tensão política interna aumentou na Ucrânia, com demissão de altos funcionários ligados a escândalos de corrupção. As negociações de paz estão suspensas e a guerra continua.

Houve 3.400 ataques terroristas com 13.900 mortos, principalmente em países da África, no Paquistão e na Índia. Em Nova Orleães, abrindo o ano, em primeiro de janeiro de 2025, em Bourbon Street e Canal Street, ruas tradicionais da cidade, um ataque matou 15 pessoas e deixou 57 feridos.

Em 13 de novembro a cidade de Paris assinalou 10 anos dos ataques de 2015, os mais letais ocorridos em território francês, com mais de 130 mortos e mais de 350 feridos. Os atentados, executados por nove terroristas ligados ao Estado Islâmico, envolveram explosões, tiroteios em massa e tomada de reféns em diversos pontos da cidade, incluindo o Stade de France, vários bares e restaurantes, e a casa de espetáculos Bataclan. Os atentados marcaram profundamente a sociedade francesa.

O drama dos refugiados prossegue com sua intensidade. Continuam a morrer às centenas os que se arriscam à travessia do Mediterrâneo enquanto políticos europeus emitem declarações e afirmam que resgatar os náufragos é incentivar as migrações. O governo da Itália proibiu que embarcações italianas ajudem no resgate. É a banalidade do mal de que falou Hannah Arendt.

Em 2025, até meados de novembro, cerca de 70.000 a 75.000 refugiados atravessaram o Mediterrâneo rumo à Europa em direção à Itália, Grécia, Espanha, Chipre e Malta, segundo dados preliminares de agências internacionais como ACNUR e OIM. Em torno de mil e quatrocentas pessoas morreram na travessia.

O ano foi também marcado pelo início do segundo mandato de Donald Trump, empossado em 20 de janeiro. Trump tornou-se o segundo presidente na história americana a cumprir mandatos não consecutivos, após Grover Cleveland no século XIX. A nova presidência trouxe de volta suas políticas controversas, incluindo a imposição de tarifas sobre importações, além de deportações em massa e retorno às ações restritivas de imigração.

Portugal viveu um ano politicamente turbulento. O governo de Luís Montenegro caiu em 11 de março após rejeição de uma moção de confiança. As eleições legislativas antecipadas, realizadas em 18 de maio, redesenharam o panorama político português. O partido de extrema direita Chega saiu fortalecido e aumentaram as deportações de imigrantes.

A economia mundial enfrentou um dos períodos mais difíceis desde a crise de 2008, com crescimento de apenas 2,5% em 2025, o mais baixo fora de períodos de recessão nas últimas décadas. O comércio internacional também sofreu, com crescimento de apenas 1%, reflexo das tensões comerciais e imposição de tarifas entre os principais blocos económicos. 

O PIB mundial atingiu cerca de 115 bilhões de dólares, com os Estados Unidos e China representando conjuntamente 43% da economia global.

Temperatura

O ano de 2025 foi o segundo mais quente desde o início das medições, segundo a Organização Meteorológica Mundial. A temperatura média global entre janeiro e agosto ficou 1,42°C acima da média pré-industrial, numa sequência alarmante que torna impossível limitar o aquecimento a 1,5°C conforme havia sido acordado nas negociações para salvar a vida no planeta.

Os últimos anos (2015-2025) foram os mais quentes em 176 anos de registros climáticos. O gelo marítimo do Ártico atingiu a menor extensão já observada, enquanto eventos extremos – desde inundações devastadoras a incêndios florestais e ondas de calor – impactaram as populações em todos os continentes.

Inteligência Artificial

A IA consolidou-se como força transformadora. Modelos avançados como o OpenAI o1 demonstraram capacidade de raciocínio lógico semelhante ao humano, resolvendo problemas complexos em ciência, programação, matemática, direito e medicina. A Microsoft manteve-se na vanguarda, impulsionando avanços históricos na pesquisa científica, especialmente em ciência biomolecular e descoberta de medicamentos.

A IA acelerou progressos em áreas como supercomputação, previsão meteorológica e desenvolvimento de materiais sustentáveis, marcando um momento decisivo na aplicação prática dessa nova tecnologia.

O 5G expandiu-se e viabilizou aplicações em cidades inteligentes, veículos autónomos e automação industrial. A sustentabilidade e critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) ganharam centralidade nas estratégias empresariais, refletindo as preocupações com o futuro do planeta.

Mas caberia ao ano que vai terminando a definição que Eugenio Scalfari escreveu sobre um outro ano terrível, no jornal italiano La Republicca, que ele editava: “questo anno terribilis che sta per andarsene col suo fardello di sangue, di pianto, di aggravata miseria, di incertezze economiche e di piu intense paure esistenziali” – este ano terrível que está para ir embora com seu fardo de sangue, de pranto, de agravada miséria, de incerteza econômica e do mais intenso medo existencial.


Publicado originalmente em InComunidade.

*Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).

Foto de capa:  Adrian Mag na Unsplash

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