Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã
No sábado (1), enquanto ocorriam as eleições dos novos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), reverberava ainda a sequência de críticas ao governo dos principais líderes do Centrão, os presidentes do PSD e do Republicanos, Gilberto Kassab e Marcos Pereira, e o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Os comentários baseavam-se a partir de uma fórmula simples: sem o Centrão, o governo teria apenas 16% do Congresso, mas essa faixa mais à esquerda ocupa 90% dos cargos mais importantes da Esplanada. Quando os primeiros indícios ventilados sobre novas mudanças ministeriais são justamente a ida da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a grita se generalizou.
Combinados
Não há indícios de que Kassab, Pereira e Lira tenham combinado antes que dariam os duros recados que deram às vésperas da nova eleição do comando do Congresso. Mas foram motivados a partir dos mesmos sentimentos, e apontam para o que pode vir agora.
Trégua
Nos discursos e nos primeiros movimentos no sábado, com a presença maciça de ministros do governo prestigiando as posses, deu-se uma impressão de trégua. Mas o Centrão ainda espera essas compensações: ajudará se sentir que é também ajudado.
Segundo sinal é que não existe outro Lula
A disputa interna queima Haddad como alternativa | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Um segundo sinal também era repetido por parlamentares do Centrão. O centro percebe que, dependendo das circunstâncias, pode deixar de ser linha auxiliar para ser alternativa de poder. Como disse Kassab: Lula não ganharia a eleição hoje, mas também não ganharia alguém com o sobrenome Bolsonaro. Inicia-se, então, um ensaio de fim da polarização. Mas que seguirá de olho em Lula como fenômeno político. Ninguém despreza sua capacidade política. Mas tem dúvidas se ele ainda dispõe da mesma saúde e vitalidade para concorrer a nova eleição em 2026. E, aí, o segundo problema: no campo de Lula, se não for ele, quem será?
Alternativas
Não existe outro Lula, porque Lula nunca permitiu que fosse construído. Se a disputa política interna no PT queima aquele que parecia com mais chances de ser a alternativa – o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o único que já foi testado -, facilita a debandada do Centrão.
Haddad
O resumo, portanto, é que o Centrão segue disposto a apoiar Haddad – até porque tem pontos de conexão com sua agenda. Concluirá a reforma tributária, o ajuste fiscal. Terá mais dificuldades de construir apoio, talvez, à reforma do Imposto de Renda e taxação dos super ricos.
Coalizão
Mas Lula e, principalmente o PT, precisam entender que estão à frente de uma coalizão. Que, no caso do Congresso, está muito mais ao centro e à direita que à esquerda. Se insistir em pender a balança para o outro lado, o Centrão pode botar seus pesos em outro lugar.
Direita
Esse outro lugar, porém, pode não ser a extrema-direita. Motta e Alcolumbre procuraram marcar muito nos seus discursos o cansaço com os tempos de polarização e guerra política. O Centrão se move. E pode ter se dado conta de que pode se mover sozinho.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade
Publicado originalmente no Correio da Manhã
Foto de capa: Lira seguiu os recados dados por Kassab e Pereira | Marcelo Camargo/Agência Brasil
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