Entre ar-condicionados torturadores, acordões obscenos e ruas que gritam
(edição gerada com auxílio de IA e revisada pela equipe de redação da RED)
❄️ A tortura que sopra gelada
Jair Bolsonaro finalmente encontrou a tortura que o comove: o barulho do ar-condicionado da Polícia Federal. Segundo ele, o ruído próximo à cela viola direitos humanos. É curioso — para dizer o mínimo — ouvir isso de quem passou décadas exaltando torturadores, relativizando choques elétricos, pau-de-arara e assassinatos como se fossem “excessos administrativos”.
Nem com cem aparelhos de ar-condicionado ligados ao mesmo tempo, fazendo um coral industrial, a situação se aproximaria do sofrimento real das vítimas da ditadura que Bolsonaro admira. No Mundo Surreal, porém, desconforto térmico virou crime, desde que atinja alguém chamado Jair.
⚖️ Dosimetria: o erro que sempre cai no mesmo colo
Tentando aliviar a pena do ex-presidente, a Câmara aprovou um projeto que, “sem querer querendo”, reduz penas de estupradores e traficantes. Depois veio a ladainha do erro técnico. Curiosamente, o erro nunca prejudica banqueiro, político ou aliado — só beneficia.
A extrema direita, que passa o dia berrando por penas máximas e cadeia eterna, mostrou mais uma vez que o discurso é cosplay. Na prática, abraça o crime, legisla por ele e, quando possível, se mistura. Não à toa, o projeto já atende pelo apelido carinhoso de “PL da facção”.
🤝 O grande acordão (com exclusão do povo)
Enquanto o país olha, Brasília tenta costurar mais um grande acordo nacional, aquele em que todos ganham — menos o eleitor. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, promete votar a dosimetria. Em troca, ganhou o direito exclusivo de acessar informações sigilosas extraídas dos celulares do banqueiro Daniel Vorcaro, no escândalo do Banco Master.
O presente veio do ministro Dias Toffoli, que centralizou tudo sob sigilo máximo. Tudo, menos o que interessa ao senador citado nas investigações. Os bolsonaristas, por sua vez, tremem com a possibilidade de a votação ficar para depois do recesso, quando o cenário político muda e Tarcísio de Freitas precisa decidir se abandona São Paulo para tentar o Planalto.
Lula pode vetar qualquer versão desse Frankenstein legislativo, visto pela esquerda como anistia disfarçada. As ruas já avisaram: paciência não é infinita.
🏛️ Crime organizado com toga, salário e promoção
No Rio, o roteiro ficou pesado até para o padrão local. Depois da prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, caiu o desembargador do TRF-2 Macário Ramos Júdice Neto, acusado de ligação com o crime organizado.
Macário passou 17 anos afastado por venda de sentença, sempre recebendo salário. Ao voltar, foi promovido por antiguidade. Antiguidade no crime, talvez. Só no Mundo Surreal o tempo em suspensão conta como mérito.
O requinte final: ele era relator do processo de TH Jóias, ligado ao Comando Vermelho. Um suspeito de vender sentenças julgando crime organizado. Isso não é conflito de interesses — é integração institucional.
Para completar, sua esposa atuava na Alerj até pouco antes da operação. Harmonia familiar em versão penal.
🍷⌚ Antônio Doido e o esporte olímpico do celular voador
A PF encontrou vinhos caros, relógios, dinheiro vivo e celulares no apartamento funcional do deputado Antônio Doido (MBD-PA). Durante a operação, alguns celulares tentaram fugir, sendo arremessados pela janela e pousando no gramado.
O inquérito, aberto por ordem do ministro Flávio Dino, investiga desvio de verbas públicas para financiar campanhas eleitorais. O nome da operação, Igapó, faz sentido: quando a água baixa, o lixo aparece. E aparece em espécie.
⚖️ STF: código de conduta e turbulência na cabine
A tentativa do presidente do STF, Edson Fachin, de criar um código de conduta interna abriu a primeira crise da sua gestão. Ministros acharam o momento péssimo: Senado discutindo impeachment, bolsonaristas pressionando e Toffoli viajando de jatinho com advogado ligado ao Banco Master.
O tribunal tenta manter coesão após enfrentar o golpismo, mas o bastidor virou combustível para quem quer desmoralizar a Corte. No Mundo Surreal, até tentar organizar a casa gera incêndio.
⛪ Padre Júlio: silêncio como método
O cardeal Dom Odilo Scherer mandou o padre Júlio Lancelotti sair das redes, parar transmissões e possivelmente deixar a paróquia onde atua há mais de 40 anos. Tudo “para protegê-lo”, claro — especialmente num momento em que a extrema direita e o MBL o atacam com fúria.
O padre que cuida da população em situação de rua virou alvo preferencial de quem nunca cuidou nem da própria humanidade. Aos 77 anos, pode ser aposentado compulsoriamente, embora outros padres sigam ativos até os 80 ou 90. Parece que, neste caso, a idade pesa mais quando acompanhada de empatia.
🚨 O Brasil gritou SEM ANISTIA
O dia estremeceu o país. Milhares tomaram ruas em todas as capitais, unindo arte, poesia e política num grito que já virou patrimônio democrático: SEM ANISTIA. O recado foi direto ao Congresso mais degradado da história recente, especialmente ao presidente da Câmara, Hugo Motta, símbolo das manobras para livrar golpistas do 8 de Janeiro.
As frases históricas do bolsonarismo reapareceram como provas de acusação, não como bravata. As ruas mostraram que voltaram a ser bússola política, lembrando aos gabinetes que a democracia não mora só em Brasília.
🤖 IA nas eleições: o perigo já chegou
A advogada eleitoralista Francieli de Campos foi direta: a Justiça Eleitoral não consegue conter sozinha o impacto da inteligência artificial. Dados do Observatório IA nas Eleições mostram que 60% dos casos envolvem deepfakes. A fronteira entre real e falso foi implodida.
A legislação em vigor tem 35 anos — da época em que e-mail era luxo e fake news era boato de esquina. O Senado até aprovou a regulamentação da IA, mas a Câmara deve empurrar tudo para 2026. Até lá, a desinformação corre solta, em alta velocidade.
🗳️ Como os caciques sequestraram o voto
O ex-juiz eleitoral Márlon Reis escancara o truque: o eleitor acha que escolhe, mas quem decide são os caciques partidários. O sistema proporcional com lista aberta brasileiro é uma jabuticaba que concentra poder, dinheiro e previsibilidade nas mãos de poucos.
Verbas, fundo partidário, emendas e gabinetes viraram moeda de troca. A frase que resume o sistema é simples e brutal:
“Você me dá 10 mil votos que eu te dou uma verba.”
O MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral) propõe uma saída: eleição em dois turnos para deputados, tirando a lista dos caciques e devolvendo ao eleitor a decisão final. Não é revolução — é só tentar fazer a democracia funcionar.
🧭 Epílogo Surreal
O Brasil termina o ano assim:
- ruas despertas,
- Congresso cínico,
- instituições tensionadas,
- e um povo avisando que não aceita mais acordos feitos nas sombras.
Quem não ouviu, ouviu sim. Só está fingindo.
Ilustração da capa: Jornal do Mundo Surreral Nº 14 – Imagem gerada por IA ChatGPT




