De BENEDITO TADEU CÉSAR*

De acordo com todos os levantamentos realizados e publicados, Lula venceu o primeiro debate dos presidenciáveis do segundo turno, realizado neste domingo (16) à noite. Os acompanhamentos foram feitos ao vivo, por meio de “grupos focais”, que reuniram eleitores indecisos ou que declararam não ter votado em nenhum dos dois candidatos e por meio do acompanhamento realizado minuto a minuto das manifestações postadas nas redes sociais durante o debate.

Como existe o debate e o debate sobre o debate, e como é esse segundo debate que define a percepção da imensa maioria que não assiste ao debate ao vivo, vale a pena fazer aqui uma avaliação do desempenho dos candidatos.

Pela primeira vez, por iniciativa da Rede Bandeirantes e dos veículos que compuseram o pool que promoveu o encontro, foi realizado um debate com regras que possibilitam a exposição de ideias com alguma profundidade e o confronto direto das propostas dos oponentes, deixando a eles a tarefa de administrarem os quinze minutos que cada um tinha para o embate direto.

A novidade, entretanto, foi mal aproveitada ou estrategicamente desprezada pelos candidatos, que se ativeram à tentativa de desconstruir a imagem do seu adversário.

Logo no primeiro bloco, com perguntas formuladas pelos próprios candidatos ao seu oponente, Lula levantou e explorou a inoperância e o descaso de Bolsonaro no combate à pandemia e, com isso, conseguiu acuar o atual presidente, que deixou transparecer seu desconforto e insegurança.

Lula apontou que Bolsonaro se manteve omisso e zombou das mais de 600 mil mortes, muitas delas evitáveis, caso as medidas recomendadas pelas autoridades de saúde de todo o mundo tivessem sido adotadas e as vacinas tivessem sido adquiridas em tempo hábil. Bolsonaro respondeu com afirmações e dados falsos, conforme apurações realizadas pelas agências de checagem de dados, amplamente divulgadas hoje. Ponto para Lula, apontam as pesquisas realizadas ao vivo.

No segundo bloco, reservado exclusivamente às perguntas de jornalistas, os levantamentos realizados apontam que não houve vencedor, com ambos se esquivando das respostas e desperdiçando a oportunidade oferecida para o aprofundamento de suas propostas.

No terceiro bloco, de formato híbrido, com perguntas de jornalistas e também o confronto direto entre os candidatos, os levantamentos indicam que Bolsonaro se saiu melhor, pois conseguiu constranger Lula, utilizando-se das acusações de corrupção que teriam ocorrido durante seus governos. Nitidamente constrangido, Lula interrompeu seu adversário diversas vezes, o que lhe valeu reprimendas dos mediadores, e administrou mal o tempo, deixando que Bolsonaro falasse sem interrupção durante os seis últimos minutos do bloco.

Assessorado pelo ex-juiz Moro, que condenou Lula e posteriormente foi considerado suspeito e incompetente para julgar o ex-presidente, além de ter se integrado ao atual governo, o que confirma sua condição de perseguidor político de Lula, Bolsonaro requentou acusações já desmentidas pelos fatos e pelos tribunais.

Lula perdeu uma ótima oportunidade para reafirmar sua inocência e a injustiça de suas condenações, reconhecida pelo STF e até mesmo por ministros que o condenaram e também pelo Tribuna Internacional de Direitos Humanos da ONU. Perdeu também a oportunidade de lembrar que ele foi absolvido, mas que seu adversário está sendo investigado por corrupção e corre o risco de ser condenado e, quem sabe, preso. Ponto para Bolsonaro.

Deu empate, então, já que Lula venceu o primeiro bloco, ninguém venceu o segundo e Bolsonaro venceu o terceiro?

Não é isso o que apontam as pesquisas realizadas durante e posteriormente ao debate. Nelas, ainda que não tenha havido nocaute, a vitória foi de Lula, com ampla vantagem de pontos.

*Cientista político, professor aposentado da UFRGS e integrante da coordenação da RED.

Imagem – reprodução do debate.

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