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“Vamos salvar os oceanos para nos salvarmos”. Entrevista com Jeffrey Sachs

“Vamos salvar os oceanos para nos salvarmos”. Entrevista com Jeffrey Sachs

Meio Ambiente por RED
22/08/2022 12:24
“Vamos salvar os oceanos para nos salvarmos”. Entrevista com Jeffrey Sachs

Para um dos principais especialistas em desenvolvimento sustentável “a aposta em jogo é muito alta, mas estamos perdendo tempo. Apesar da guerra em curso, os governos devem cooperar no âmbito das mudanças climáticas“.

A entrevista é de Fiammetta Cupellaro, publicada por Repubblica, 21-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini. “Nossa salvação depende dos oceanos, eles são nosso patrimônio compartilhado. Se continuarmos a danificá-los, poluí-los e não enfrentarmos o problema das mudanças climáticas juntos, seremos nós os primeiros a sofrer as consequências. Este é um desafio global. Estamos perdendo tempo, é preciso agir agora”.

Jeffrey Sachs, professor de Economia da Universidade de Columbia de Nova York, é um dos maiores especialistas mundiais em desenvolvimento sustentável, chamado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para liderar o Conselho de Liderança da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, uma rede que envolve 1600 instituições, sociedade científica, acadêmica e da sociedade civil engajadas no desenvolvimento de modelos éticos e sustentáveis.

Para o Dia Mundial dos OceanosJeffrey Sachs estava em Roma, ou melhor, no Vaticano. Foi o próprio Papa que o escolheu como membro da Pontifícia Academia das Ciências Sociais e no dia 8 de junho se encontrou com outros cientistas de todo o mundo. Uma espécie de cúpula de especialistas mundiais desejada pelo Papa Francisco para fazer um balanço sobre a saúde dos oceanos e a situação das populações que tiram seu sustento justamente do oceano e do mar. Ao fundo uma data: 2030 e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Faltam apenas 8 anos.

Eis a entrevista:

Professor Sachs o mundo está em uma situação muito complicada, haverá tempo para implementar os objetivos?

Sim, mas temos que mudar o ritmo. E para fazer isso, primeiro temos que fazer os governos entender o quanto é alta aposta em jogo. Na verdade, é muito alta. É necessário um esforço coletivo, especialmente com as tensões de agora. Precisamos encontrar uma forma de trazer esse conceito de sustentabilidade e equidade de volta para o centro das relações internacionais.

Os políticos entre si e junto com os cientistas devem cooperar sabendo que temos um patrimônio comum, que é o mar e os oceanos. Não apenas a saúde do Planeta depende deles, mas a subsistência de mais de um bilhão de pessoas que agora estão em perigo. Existem áreas do mundo como o Indo-Pacífico, o Mar da China Meridional e agora com a guerra na Ucrânia também o Mar Negro, que se tornaram campos de batalha onde se realizam práticas de pesca ilegal, mas também lutas para se apropriar de recursos e explorar aquele mais precioso, também como fonte de energia: a água.

 

Quais são as ações mais urgentes para salvar o mar e os oceanos?

Estão poluídos e cheios de plástico, mas há um problema, muito mais silencioso e invisível, que está levando ao colapso dos ecossistemas aquáticos, a acidificação das águas devido ao aumento da concentração de dióxido de carbono. Além disso a pesca intensiva, aquele mecanismo de arrasto do peixe culpado de despovoar o mar e empobrecer algumas populações costeiras. Todos danos causados pelo homem e pela exploração indiscriminada do mar.

 

Por que você acha que os poderosos do mundo não intervêm?

Em primeiro lugar, eles não escutam as palavras dos cientistas, o que suas pesquisas dizem. Não apenas isso. Eles não alocam fundos suficientes para permitir que estudem os danos causados pelas mudanças climáticas. No entanto, são eles que sabem o que o verdadeiro estado de saúde é do planeta. Quando, por exemplo, converso com alguns oceanógrafos, eles me dizem que a pesquisa está paralisada porque não têm financiamentos suficientes. Existem tecnologias maravilhosas ao redor do mundo, mas os governos não alocam dinheiro não só para novos projetos, mas também para realizar uma gestão correta dos existentes.

Qual é a minha resposta diante de tudo isso? Digo apenas que a primeira lição que aprendi é ouvir ‘aqueles que sabem‘. Portanto, falo aos políticos, os governos devem ouvir em primeiro lugar os cientistas. Porque eles sabem nos dizer como proteger o Planeta. Não devemos apenas segui-los, mas ajudá-los.

 

Questões como aquecimento global, transição ecológica e desenvolvimento sustentável correm o risco de serem deixadas de lado devido à crise geopolítica desencadeada pela guerra entre Rússia e Ucrânia?

Certamente estamos em uma situação muito grave, mas o mundo estava em perigo mesmo antes da pandemia e da guerra, devido ao forte fosso econômico entre países ricos e pobres, pobreza generalizada, desigualdades, amplas instabilidades sociais. Com alguns países que continuam a permanecer cada vez mais distantes da prosperidade. Mas não deve passar a ideia de que a consequência inevitável será o fechamento das relações entre eles.

Um cenário semelhante nos exporia a enormes riscos ambientais. E não só. Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma virada para salvar a Terra, os oceanos, o futuro da humanidade: devemos encontrar uma maneira de cooperar, apesar de tudo. As apostas em jogo são tão altas que precisamos ter sucesso.

 

Notícia publicada originalmente no Instituto Humanitas Unisinos (IHU), aqui .

Foto freepik.com

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