Opinião
URGENTE: S.O.S. TERRA
URGENTE: S.O.S. TERRA
De LÉA MARIA AARÃO REIS*
Caminhando sobre a Terra – Uma viagem a 10 lugares ameaçados, filme de uma hora e 17 minutos de duração lançado há quinze anos volta a interessar os espectadores. Mais ainda do que antes, as populações estão preocupadas com a instabilidade do clima do nosso planeta no cotidiano de cada um.
O documentário do artista plástico multimídia Thiago Cóstackz, nascido em Natal e radicado em São Paulo, tem registrado acessos cada vez frequentes em plataforma de streaming**, atualmente, com a progressão acelerada do aquecimento global que emite sinais assustadores nesse tórrido verão do hemisfério norte, e aqui, no sul global, com os alertas de eventos climáticos extremos, tempestades, enchentes e frio intensos provocados por um eventual, inédito e forte El Niño, este ano.
O filme é uma expedição científica e artística e desperta maior interesse essa semana, com a NASA anunciando, como ocorreu há poucos dias, o alarmante aumento de quase dez centímetros do nível das águas dos oceanos nos últimos 30 anos.
‘’Sustentabilidade precisa ser pauta eleitoral no Brasil’’, já recomendava o filme de Cóstackz, realizado em 2008, nas suas sequências finais. Agora, esse lema tomou mais força e a necessidade da preservação do meio ambiente cada vez mais urgente já é um dos aspectos centrais das campanhas de políticos chamados de ecossocialistas – na observação do sociólogo e filósofo Michael Löwy – que relacionam a desigualdade de classes, no Brasil, ao ambientalismo e à convivência racional do ser humano com a natureza.
São três os expedicionários e personagens do documentário Caminhando sobre a Terra, além do próprio diretor do filme, que é também artista plástico multimídia, militante verde e conhecido da população da capital de São Paulo pelas intervenções urbanas e pelas suas exposições de cunho ecológico.
Os pesquisadores percorreram e visitaram 60 mil quilômetros de regiões em várias partes do planeta e filmaram na Groenlândia, Islândia, Rússia, no Oceano Glacial Ártico, e em Veneza e na Holanda assim como nos biomas brasileiros. No Mato Grosso, na Amazônia, na caatinga, na Mata Atlântica e nos corais do Atlântico Sul. A cidade verticalizada de São Paulo fecha o desfile de imagens com cenários desestabilizados: ‘’É um modelo de cidade que coloca em risco a sua própria existência’’.
Os pesquisadores e voluntários Patrícia Alves, Felipe Cavalheiro e André Lazzari viajam pelo filme, que não é umdocumentário do cinema direto porque não vem com diálogos. Foi montado apenas com imagens e narrações textuais. Algumas das peças já apresentadas em projetos urbanos, de rua, de autoria de Cóstackz, são inseridas nas paisagens que são detalhadas com bons textos, sempre em off erepletos de informações.
A primeira parada do grupo é na Groenlândia, segunda maior área gelada da Terra, atrás da Antártica, e a mais sensível às mudanças climáticas. ‘’A situação tende a piorar com o recuo do Oceano Ártico e com a exploração do petróleo nas áreas subjacentes’’, informa a narração. Informação de 2008!
Na Islândia, o grande Glaciar também vem diminuindo. Parte dele é propriedade européia e a outra é norteamericana. O seu lago aumentou quatro vezes de 1970 a 2008, informa a narração do filme.
A Sibéria, russa, com seu permafrost, é outra região das mais ameaçadas pelas mudanças climáticas, mostra o documentário. Os comentários: o derretimento desse tipo de solo gelado está ocorrendo de forma acelerada também e o resultado é uma decomposição de matéria orgânica cada vez mais alta que libera grandes quantidades de gases na atmosfera. O ‘’mágico equilíbrio’’ da região é afetado por toneladas de gás metano( (uma ‘’bomba relógio em suas entranhas’’) que se encontram abaixo da camada de gelo de até 300 metros de profundidade.
E o filme vai caminhando. Através de Amsterdã (a Holanda é um dos países que mais usam pesticidas), dos canais de Veneza, cidade que afunda cinco centímetros a cada século; das barreiras de corais do Atlântico Sul de onde até os anos 80 elas eram retiradas com explosões programadas no Sul da Bahia (uma das maiores catástrofes regionais).
E naturalmente imagens da tragédia do desmatamento da floresta amazônica; da Caatinga, e da Mata Atlântica – um dos cinco biomas mais ameaçados do planeta, banhada por águas das quais dependem cerca de 100 milhões de pessoas, e com uma fauna preciosa.
A expedição de Caminhando sobre a Terra termina em São Paulo, ao som de um réquiem. A narração: ‘’Vinte milhões de pessoas. Maior que Israel, Chile, Singapura. Um modelo de devastação e de poluição. Uma cidade com a maior frota de helicópteros do mundo e com uma rede ínfima, temporária, de ciclovias apenas de fim de semana’’. E o filme ainda carimba: ‘’O problema da devastação é nosso como também são nossas a responsabilidade e a solução‘’.
**Caminhando sobre a Terra – Uma viagem a 10 lugares ameaçados está disponível no youtube.
*Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros.
Imagem destacada: reprodução.
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