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Uma Conta Sem Conta
Uma Conta Sem Conta
Por EDELBERTO BEHS*
Se sobrasse uma ponta de esperança e expectativa sobre o futuro de Gaza e seus habitantes, decisão do Knesset acaba com qualquer ilusão. Em 28 de outubro, o parlamento de Israel aprovou, por 92 a 10, projeto de lei que nega meios essenciais para o funcionamento da Agência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) e outro que proíbe a operação da agência no território soberano israelense, leia-se, também a Faixa de Gaza. As medidas devem entrar em vigor em 90 dias.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, frisou que a UNRWA é a principal fonte de entrega de ajuda humanitária. As consequências serão “devastadoras”, se a decisão de Knesst for aplicada.
Fica cada vez mais evidente que Israel quer acabar com palestinos em Gaza, onde a população já passam sede e fome. É impressionante que um povo que sofreu o que sofreu no decorrer da história – passou fome e sede no deserto, viu sua população na diáspora, foi massacrada como “ratos” pelo nazismo – use os mesmos recursos contra palestinos.
Relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) aponta o estrago que a ação israelense gerou em Gaza a partir de outubro do ano passado. A produção da construção caiu 96%, a produção agrícola 93%, a manufatura 92% e a produção do setor de serviços 76%, enquanto a taxa de desemprego chegou a 81,7% no primeiro trimestre de 2024, um percentual com potencial para se manter ou aumentar conforme a continuidade das operações militares.
Segundo a Unctad, se o conflito acabasse hoje, Gaza levaria 350 anos apenas para restaurar o PIB que tinha em 2022!
Esses dados são mensuráveis. O que dizer das consequências psicológicas, físicas, educacionais, morais que pais, jovens, adolescentes, crianças vivenciam no seu cotidiano de tiroteios, bombas destruindo edifícios, aviões e drones sobrevoando a região, o que ficará registrado no DNA para as próximas gerações?
“O que as crianças, as famílias, têm a ver com a guerra? Elas são as primeiras vítimas”, disse o Papa Francisco no final da audiência geral, na Praça de São Pedro, na quarta-feira, 30 de outubro. As crianças “estão pagando com suas vidas e o futuro”, declarou a diretora geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell.
Essa conta é incomensurável! Será possível alguma restauração da alma de crianças, futuros adultos, que as bombas sobre Gaza provocam?
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Foto de capa: Reuters/Ibraheem Abu Mustafa/direitos reservados
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