Opinião
Um abraço, várias mensagens
Um abraço, várias mensagens
De LEONARDO MELGAREJO*
Lula e o Papa Francisco, abraçados. Uma foto. Uma mensagem cifrada.
Dois homens adultos, cientes de que a vida é breve e de que a deles, como a de todos nós, desde o nascimento não cessa de se aproximar do fim.
Nos caminhos que se apresentaram, tanto pelas atitudes afirmativas como pela firmeza de dizer não, entre as possibilidades restritas e os deveres em aberto, aqueles senhores pouco a pouco se tornaram quem de fato são. E com isso ajudam a revelar quem de fato somos, nos nossos trajetos e em relação a eles.
Da sucessão dos papéis reservados ou impostos àqueles senhores que se abraçam, no final destes tempos restarão mais do que algumas imagens e algumas memórias.
De suas vivências emana algo que por felicidade nos calhou de ver, e que agora nos cabe entender e fazer reverberar. Algo relacionado à importância das decisões autônomas e das ações conscientes em favor da renovação de esperanças associadas ao alvorecer da história humana, nestes dias quase esquecidas. Algo que vem do passado e se estende ao futuro pelas atitudes de tantos Sepés, Garibaldis, Josimos, Casaldaligas, Brunos, Dorotys, Marias e Marielles, que a corrente se perde, ainda que insista em apontar caminhos para o enfrentamento de nosso único e verdadeiro inimigo real.
Aquele inimigo que cresce entre os elementos que nos freiam, que nos afastam, que distorcem nossa visão a respeito da brevidade da luz que existe em todos os excluídos. Aquela luz que está presente no abraço de reconhecimento e empatia entre aqueles homens adultos que sabem quem são, o que fizeram e o que ainda lhes cabe fazer.
O inimigo está no desânimo, na apatia, no comodismo, na frouxidão, na indiferença, na ganância, na covardia e em tudo aquilo que, emergindo em nós, enevoa a percepção de que, com suas várias formas e com suas mil faces, o inimigo é legião. E é real. E se expressa nas posições assumidas por aqueles que hoje atacam o MST e a agroecologia, que defendem a guerra e o Marco Temporal, que sustentam a taxa de juros obscenos do Banco Central e a construção da ignorância alimentada pela reforma educacional. Aqueles que ontem queimavam livros, armavam golpes de estado, trabalhavam contra a ciência, insistindo em nos manter sob a insegurança do fascismo emergente. Aqueles que agora pretendem nos impedir de ler a mensagem contida naquele abraço de Lula e Francisco.
E ali está a verdade que precisamos encarar.
Na cristalização dos melhores e piores momentos, desde a infância até o hoje, ordenados em turbilhão de obras inacabadas, os homens e as mulheres podem escolher entre semear atitudes reveladoras da importância de seus compromissos para com os que lutaram e lutam a boa Luta, a que Lula e Francisco nos convocam, ou a negar e fugir da consciência de responsabilidades que nos separam dos animais.
Naquele abraço está o reconhecimento da irmandade, do carinho e dos compromissos que nos definem como a parte que se soma ou que se opõem ao desenvolvimento do espírito e da emancipação humana.
Naquele abraço se desenham o país, o planeta e a humanidade que podemos e devemos recuperar.
Música Quero de Volta Meu País, de Carlos Hann.
*Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.
Foto: Ricardo Stuckert/PR.
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