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Opinião

Trump réu, Bolsonaro, acusado: o declínio do homem público

Trump réu, Bolsonaro, acusado: o declínio do homem público

Artigo por RED
06/04/2023 15:20 • Atualizado em 08/04/2023 19:32
Trump réu, Bolsonaro, acusado: o declínio do homem público

De PAULO TIMM*

A crise das democracias ocidentais e o declínio do homem público já não são temas recentes. Lá atrás, 1918, Osvald Spengler, já falava em “A DECADÊNCIA – DO OCIDENTE” . Em 1977, outro autor, Richard Sennet, escrevia “O DECLÍNIO DO HOMEM PÚBLICO- As tiranias da intimidade” . O desequilíbrio da civilização moderna, desde a sociedade urbana do século XVIII ao mundo em que vivemos agora, incluindo o declínio da participação na vida política nas últimas décadas é minuciosamente tratado neste livro.

Desde então, vários outros analistas se debruçam sobre a crise do Ocidente, hoje mergulhado num confronto militar perigoso na Ucrânia e numa concorrência não menos arriscada com a milenar China: “Decadência – O declínio do Ocidente”, por Michel Onfray, “O Declínio do Ocidente”, por Niall Ferguson etc.. Diversos artigos publicados recentemente sublinham os sintomas da crise, em especial “Os sinais de declínio estão por toda a parte“,  CartaCapital, por Paulo Nogueira Batista; A decadência institucional dos EUA, Tadeu Valadares.

Mas nunca imaginaríamos um ex-Presidente dos Estados Unidos acusado criminalmente. Ontem vimos a constrangedora figura do histriônico Donald Trump, fichado, em acusações por 34 violações de conduta, às quais responde fazendo-se de vítima. Já nem se discute a falsidade moral de sua relação extraconjugal com uma atriz pornô, que ele diz ter tentado esconder para que não chegasse aos ouvidos da consorte. Isso parece que virou banalidade. A acusação repousa sobre manipulação fiscal usada para encobrir o escândalo. E esta não é a mais grave acusação criminal contra Trump.

Corre na Justiça do Estado da Georgia o processo relativo à sua tentativa de intimidar um servidor forçando-o a conseguir votos que o levariam à vitória sobre Biden no Estado e outro, na esfera federal, por incitação à insurreição que levou aos acontecimentos da ocupação por seus fanáticos seguidores do Capitólio, nos quais morreram 4 pessoas. À sua sombra, no Brasil, outro ex Presidente, Jair Bolsonaro, seu admirador, comparece hoje à Polícia Federal para se explicar sobre o caso das jóias recebidas – e supostamente “embolsadas” – da famigerada Casa Real Saudita, comprometida no esquartejamento de um jornalista opositor na sua Embaixada na Turquia.

Não por acaso, ambos ex presidente comungam do mesmo ideário político: extrema direita. Também entendem que o mundo ocidental está em crise mas em lugar de lutar para recuperar suas instituições prometem o retorno, a qualquer preço, inclusive recurso à violência, a um passado mitificado pelas mesmas palavras de ordem do fascismo: DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA. O “illo tempore” perdido…Foi com estas palavras que Mussolini comandou a famosa Marcha sobre Roma que, afinal, lhe daria o comando da Itália, inspirando um medíocre candidato a artista, Adolf Hitler, que lhe seguia os passos, ao horror da II Guerra Mundial.

Para tanto, atropelam valores, colocando-se como produtores de uma nova verdade, a pós verdade, criada pela insistência na narrativa distorcida dos fatos e da história. Seguem à risca o conselho de Goebbels, chefe da comunicação de Hitler, que ensinou que uma mentira repetida insistentemente acaba se tornando verdade. E encontraram na industrialização de suas ideias nas Redes Sociais o canal para a almejada comunicação direta com “o povo”. Uma massa desencantada com o mundo da Razão e da Liberdade Assistida, sensível aos apelos de uma “nova ordem”.

Assim nasceu contemporaneamente o terraplanismo, o descrédito à Ciência e suas correspondências nas Políticas Públicas, como o uso de vacinas, a crítica desmesurada às instituições republicanas, começando pelos ataques aos Poderes Legislativo – O Capitólio, em 6 janeiro de 2020 – e Judiciário (o combate à Justiça Eleitoral e às urnas eletrônicas), que só os servem se foram moldados aos seus próprios propósitos. Haja tempo…


*Economista

Foto: Ministério das Relações Exteriores

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