?>

Opinião

TEXTO 6: Separando o joio do trigo

TEXTO 6: Separando o joio do trigo

Artigo por RED
14/03/2023 11:30 • Atualizado em 15/03/2023 09:31
TEXTO 6: Separando o joio do trigo

De ADELI SELL*

Sempre se ouviu a expressão “é preciso separar o joio do trigo”, ainda mais nas comunidades católicas de Bento e da Serra. A parábola de separar o “joio do trigo” é do Novo Testamento, quando Mateus, durante o Juízo Final, anunciava que os anjos iriam separar os “filhos do maligno” (o joio) dos “filhos do reino” (o trigo).

Gosto da expressão. Já não gosto de “Deus não mata, mas castiga”. Mas diante de tantos devotos de Santo Antônio, a usei para dizer que “matava”. Mata a economia da Serra, exemplo disso é o envio de caixas e caixas de vinho de volta, não vendem mais em tal super. Restaurantes mandam de volta também.

Mas a questão é SEPARAR O JOIO DO TRIGO.

“Vinho sem trabalho escravo e turismo afrocentrado: conheça a iniciativa do Sítio Rosa do Vale” é uma nota alvissareira da mídia da semana. Localizado em Poço das Antas (RS), a propriedade oferece uma rota de turismo regional e uma produção local de vinhos. Ou seja, dá para salvar trigo no meio do joio. Quem fala é uma empresária da macrorregião: “Existem pessoas negras e indígenas aqui. O próprio nome do Vale do Taquari, é um nome indígena!”

Para não ser acusado de realizar propaganda porque comprei ontem uma caixa de seis espumantes brut rosé da Serra, vou omitir o nome. Para saber mais – 51.999335309 – adeli13601@gmail.com. Todos conhecem as vinícolas envolvidas. Meus textos devem ser lidos como histórico-culturais e como de militância cidadã e humanista.

Na semana com a negativa repercussão do episódio da Serra, aparece mais um caso em Joinville, ligado a obra pública terceirizada. Parece que a pinguela que liga RS e SC não caiu. No mesmo dia, uma matéria mostra que as lições de Mateus, o Apóstolo, continuam válidas, pois alguns “soltos” pelo Ministro Alexandre de Moraes esbravejavam. Era o joio querendo ser trigo.

Um metalúrgico de SC diz que a prisão não é um lugar feito para gente como ele É “coisa para bandido”. Ora, ele é um dos piores bandidos, pois o terrorismo é uma afronta à Constituição. Queria piquenique?

É outro “Ivo”. Estes “Ivo” não viram nada da quebradeira.

“Naquele momento em que você é despido, ali o meu mundo caiu”. Todo direitista não precisa estar nu, se vê de longe o ódio estampado no rosto com quem não concorda. São a Banalidade do Mal ambulante.

“Achava que tinha preparo psicológico. É desespero mesmo. Não tem quem não chore lá dentro”. O mais legítimo joio. Carregando a tornozeleira sabemos que ali é o joio.

O joio é um inço, teima estar por todos os cantos, germina nas fendas do asfalto, o que esta manchete confirma:
Bolsonarista, executivo de vinícola Garibaldi chama críticas ao trabalho escravo de “lacração”.

Podem mudar? Deveriam. Deveriam todos ter a humildade de rever seus comportamentos, suas vidas, propor um novo pacto.

Mateus, o Apóstolo, se torna um escriba da modernidade líquida. Sabia o que era separar o joio do trigo, pois era coletor de impostos. Algo que a SeFaz-RS poderia ter como exemplo e fazer uma recorrida na Serra. Coletar dos sonegadores como Mateus.

Enfim, uma lição que deveria ficar no meio de tantos cristãos:

Não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. (Lucas 5:29).

Paulo Freire, o Educador, mais atual do que nunca, pois não basta ler UVA, é preciso entender quem planta, quem colhe e como. Tudo o que plantamos, colhemos. Pode ser o trigo, pode ser o joio. Por isso, Deus não mata, mas castiga. Se plantar o joio, o castigo é colher joio. Aí vem a prisão, as multas, o boicote, a tornozeleira eletrônica.

Os empresários do setor deveriam ter a humildade de saber o que é certo e o que é fácil. O certo é sempre fazer as coisas dentro da Lei, seguir as normas, entendam os “gringos” que é preciso fazer a “dilligenza dovuta”, ou seja, a diligência prévia e devida. Ainda mais sendo empresário que contrata terceiros. Fácil é pagar um “gato”, mas o resultado agora é perder milhões e milhões para o boicote.

E o pior nisso tudo é que nas cooperativas temos cooperativados que são ainda a fina flor do trigo dos ancestrais, mas veio uma geração na qual houve uma mutação e o trigo virou joio. Assim, nas duas cooperativas os bons vão penar pelos maus. Talvez este lado “bom” exija dos CEOs e caciques, autoridades que venham para uma MESA INTERPARTES – governo, empresas, sindicatos, cooperativas para um PACTO.

Tenho sido recorrente nesta posição, ou tem um novo PACTO, com base em fortes políticas de compliance, sem maquiagens dos princípios ESG, sem greenwashing ou a guerra vai continuar.

Conheço outras cooperativas da Serra, mais modestas, com controle social das coletividades. Que tal seguir este modelo certo, não o fácil. Conheço empresas terceirizadas que não são como este Fênix. Diga-se de passagem, esta não vai renascer das cinzas jamais.


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Este artigo é o sexto da série “Dossiê Bento Gonçalves”, composta por 10 artigos inéditos de Adeli Sell que serão publicados diariamente.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

Toque novamente para sair.