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Opinião

Terrorismo de Estado

Terrorismo de Estado

Artigo por RED
15/12/2022 04:35 • Atualizado em 16/12/2022 12:03
Terrorismo de Estado

De NUBIA SILVEIRA*

Na madrugada desta quarta-feira, 14, ao ler o texto do repórter Henrique Rodrigues, publicado pela Revista Forum, voltei, mais uma vez, ao passado. Mais especificamente à história do Brasil sob o regime militar. A Forum publicou, às 17h54 de terça-feira, 13, informações exclusivas de um servidor da Polícia Federal, lotado no Palácio do Planalto, sobre os ataques terroristas ocorridos na segunda-feira, 12, em Brasília. O servidor – cujo nome não foi revelado – denunciou o GSI – Gabinete de Segurança Institucional, chefiado pelo general da reserva Augusto Heleno, como o responsável pelo planejamento, operação e incitação dos ataques, feitos por civis (ou militares, sem farda?) amotinados em frente aos quartéis, pedindo pela volta da ditadura militar. Sendo assim, voltamos a viver o terrorismo de Estado. O GSI, claro, nega tudo. E os policiais da área de segurança de Brasília não conseguiram prender um(a) só dos vândalos, que destruíram uma delegacia, ônibus e carros e espalharam botijões de gás por uma das vias da capital federal.

As impressões digitais do governo estavam também na bomba que explodiu no estacionamento do Centro de Convenções Riocentro, no Rio de Janeiro, enquanto Elba Ramalho cantava para 20 mil pessoas em um grande show, comemorativo ao 1º. de Maio de 1981, quando a ditadura já sentia o seu fim. A bomba explodiu no colo do sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário. O suboficial morreu no local e seu companheiro, capitão Wilson Dias Machado, ficou gravemente ferido. No carro em que estavam (um Puma, em nome do capitão, com placas falsas) foram encontradas duas granadas. Os dois militares serviam no DOI-CODI – Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, do Rio de Janeiro, então comandado pelo coronel Júlio Miguel Molinas Dias. As autoridades militares seguiram, naquela época, o mesmo script do GSI: negaram tudo.

O ataque foi preparado em minúcias: no caminho para o Riocentro, por exemplo, várias placas de trânsito foram pichadas com a sigla VPR, de Vanguarda Popular Revolucionária, um grupo de esquerda inexistente desde 1973. As pichações seriam usadas como prova da culpa dos opositores à ditadura. O relatório final da investigação, apresentado pelo coronel Job Lorena de Sant’Anna confirmou a farsa do DOI-CODI, afirmando que o sargento e o capitão foram vítimas de uma bomba colocado no carro por “subversivos”.

A farsa caiu totalmente com o assassinato, em Porto Alegre, há 10 anos, de Molinas Dias, ex-comandante do DOI-CODI. Ele guardou em casa documentos sobre a Missão No.115. O arquivo de 200 páginas com carimbos de “confidencial” ou “reservado”, revelou Zero Hora, em sua edição on line de 24 de novembro de 2012, deixa claro como o Exército trabalhou para encobrir o “malfeito”.

O propósito do tumulto de 2022 é o mesmo do Estado terrorista dos anos 1980: criar pânico na plateia/sociedade e responsabilizar ativistas de esquerda. No passado, não deu certo. A sociedade não se convenceu da inocência dos militares. Agora, igualmente, não dará. Quatro anos depois da bomba explodir, a ditadura chegou ao fim. Dentro de 18 dias, Luiz Inácio Lula da Silva subirá a rampa do Palácio do Planalto, como presidente do Brasil, pela terceira vez.

A cerimônia ocorrerá, apesar de o atual vice-presidente, senador eleito pelo Republicanos-RS, general Hamilton Mourão Filho, continuar incentivando atos antidemocráticos e golpistas. Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, nesta quarta-feira, 14, o general-vice-presidente, depois de criticar o governo eleito e o STF, envia a sua mensagem aos bolsonaristas, que insistem em não reconhecer a derrota: “A minha mensagem aos manifestantes é para se apropriarem desta força, coragem e resiliência que provaram ter para permanecerem altivos, de cabeça erguida, firmes em suas convicções, unidos e diuturnamente vigilantes da nova condução que o País terá, das promessas e dos atos que virão”. O incentivo ao golpe, à antidemocracia e ao terrorismo, praticado por integrantes do governo Bolsonaro e por seguidores do presidente, não pode e nem deve ser esquecido. Muito menos anistiado. O passado precisa ficar no passado. Temos que ter futuro.


*Jornalista, trabalhou em jornal, TV e assessoria de imprensa, em Porto Alegre, Brasília e Florianópolis. Foi repórter, editora e secretária de redação. É coordenadora do programa Espaço Plural da RED – Rede Estação Democracia.

Imagem – reprodução dos atos da última segunda-feira, 12, em Brasília.

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