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Opinião

Teologia sob novos prismas

Teologia sob novos prismas

Artigo por RED
12/06/2023 05:25 • Atualizado em 13/06/2023 09:10
Teologia sob novos prismas

De ADELI SELL*

Participo de debates com um grupo de leigos missionários, por isso estou lendo o livro organizado pela Isabel Felix, cujos ensaios são em homenagem à teóloga Lieve Troch: TEOLOGIA COM GOSTO DE MANGOSTÃO.

O primeiro texto proposto para leitura é da conhecida teóloga IVONE GERBARA. Ivone nos remete para “O diálogo intercultural como mediação hermenêutica – uma homenagem para Lieve Troch”.

Afinal, o que é a “hermenêutica”? É o convite para “destrinchar” – pelo estudo e reflexão – a teologia, tendo como
caminho o diálogo entre as culturas, com nossas diferenças, formações e origens.

Lieve, ensina Gerbara, tem como pressuposto, como ponto de partida de seus estudos, reflexões e ensinamentos sobre a luta de todos/as pela DIGNIDADE FEMININA e dos GRUPOS OPRIMIDOS.

Isto é, a luta pelo BEM COMUM. Como falar em bem comum, igualdade, dignidade humana, já posto lá na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição Federal, se temos estes índices absurdos de violência contra a mulher, muitas vezes na relação doméstica, os feminicídios, a exploração sexual de meninas, a escravidão contemporânea?

Ivone Gerbara parte de uma realidade da qual não se pode escapar: a teologia como chegou a nós vem do mundo dos homens, masculino, da Europa, de uma Igreja centralizada, de cima para baixo. Ela vai nos mostrando que é
preciso escutar todas as vozes, de baixo, para – a partir das escutas – formar uma visão nova, renovadora, onde não seja o tacão de cima para baixo, a visão eurocêntrica que vai imperar.

Como foi sendo feita nossa História como Igreja? Lembram do Concilio de Trento? Assembleia de prelados católicos convocada pelo papa Paulo III com o objetivo de restabelecer a unidade e a disciplina na Igreja Católica.

“Restabelecer a unidade e a disciplina”, ou seja, lá nos idos de 1545 havia algo mexendo com as estruturas, mas a resposta era mais centralizadora ainda da Igreja.

João XIII vem com o Concílio Vaticano II – cujo objetivo foi precisar ou reorientar a doutrina da fé e fortalecer ou reformar a organização da Igreja. Propunha-se ser um momento de reflexão da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo.

Será que mudou mesmo? Eu expus os concílios dos quais não se fala no texto de Gerbara para que a leitura que se possa fazer, caso seja seu interesse, seja aprofundada; e a gente possa entender os questionamentos de centralização que Gerbara expõe.

Na atualidade temos um bispo latino-americano, franciscano. Certo? O que muda?

Vejamos o seguinte: “Comunhão, Participação, Missão” são as três palavras-chave para a caminhada sinodal que o Papa Francisco propôs à Igreja. “Temos de nos pôr à escuta do Espírito e arranjar calçado leve para caminharmos juntos, lado a lado, atentos às propostas de Deus.” Esta é a linha do papa que gosta de futebol, que fala para os pobres de fato.

Estes pressupostos dialogam com as reflexões que Gerbara tenta nos passar. Seria esta Igreja Sinodal a “desconstrução” que Gerbara nos fala?

O livro está sendo uma leitura instigante para mim…


*Escritor, professor e bacharel em Direito.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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