Opinião
Tempestade que revelou o desastre da privatização
Tempestade que revelou o desastre da privatização
De ALEXANDRE CRUZ*
Na semana passada, Porto Alegre e seus arredores foram brutalmente atingidos por um intenso temporal, desencadeando uma série de problemas que afetaram indiscriminadamente quase todas as classes sociais. A cidade mergulhou no caos devido à devastação causada pela tempestade, somada à indignação generalizada pela falta de resposta da Equatorial, empresa responsável pelos serviços essencial de energia elétrica na região. O temporal resultou em quedas de energia generalizadas, acarretando, por conseguinte, no desabastecimento de água.
A incompetência da Equatorial em lidar com a situação foi tão alarmante que nem mesmo o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), conseguiu estabelecer contato com a empresa. Frustrado pela falta de atendimento, Melo recorreu às redes sociais para convocar urgentemente um representante da empresa para integrar uma reunião de emergência. É irônico notar que o próprio prefeito, quando atuava como deputado estadual, votou a favor da privatização da energia elétrica, uma decisão que, diante dos eventos recentes, gerou descontentamento crescente.
O governador Eduardo Leite, reeleito após a privatização ocorrida em seu governo, e o prefeito Melo, ambos filiados a partidos com histórico de inclinação privatista (PSDB e MDB, respectivamente), ofereceram respostas brandas e apaziguadoras à população. Pediram paciência diante da falta do bem mais essencial: energia elétrica e água. Contudo, suas declarações suavizadas não escondem o fato de que as faltas de ambos contribuíram para a atual situação caótica.
A postura da imprensa também é motivo de crítica, destacando-se o excessivo zelo e paciência direcionados à Equatorial. Chega a ser absurdo quando um comunicador da Rádio Gaúcha afirma preferir a empresa privada à antiga CEEE. O professor de jornalismo Luiz Artur Ferraretto, da UFRGS, aponta uma observação crucial: quem recebeu mais destaque na mídia, a população desamparada ou a Equatorial? Ferraretto questiona ainda a escassez de espaço dedicado aos protestos populares nos grandes veículos de comunicação.
O jornal Zero Hora, principal veículo de comunicação do Estado, parece proteger a Equatorial para evitar se associar ao desastroso atendimento, optando por utilizar o nome da antiga CEEE para vincular o desgaste da falta de resposta na restauração da energia elétrica. A situação expõe não apenas as deficiências da Equatorial, mas também revela uma relação ambígua da imprensa com a privatização, evidenciando uma lacuna na cobertura crítica e no espaço concedido à voz da população afetada.
*Jornalista.
Foto: Divulgação/Equatorial Energia.
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