Curtas
Suicídio é a maior causa de morte de brigadianos, aponta deputada
Suicídio é a maior causa de morte de brigadianos, aponta deputada
Policiais militares do Rio Grande do Sul morrem mais pelas próprias mãos do que em confrontos
O suicídio é a principal causa de morte de policiais militares no Rio Grande do Sul. É o que ocorreu em quatro dos últimos cinco anos. Dados da própria Brigada Militar registram 49 suicídios de 2018 até 28 de fevereiro deste ano. Porque isto está acontecendo? Parte da explicação, segundo a deputada estadual Luciana Genro (PSOL), pode ser relacionada aos episódios de assédio na corporação.
“Os casos de assédio podem ser relacionados aos altos índices de adoecimento mental. E o adoecimento mental é o primeiro estágio na triste e dramática situação que pode levar ao suicídio”, pondera.
Ela vem recebendo muitas denúncias de forma anônima. Também dialoga com brigadianos de nível médio via WhatsApp, Instagram, Facebook, além de participar de reuniões presenciais. Conta que, desde a legislatura passada até hoje, remeteu 84 ofícios ao Comando-Geral da BM pedindo esclarecimentos sobre o quadro. Aliás, o 1º Censo da Brigada Militar, ao abordar o uso de medicamentos de uso contínuo entre seus servidores, assinala que aqueles indicados para doenças psiquiátricas/psicológicas ocupam o segundo lugar na listagem, logo abaixo dos receitados para pressão alta ou outros problemas cardíacos.
As reclamações mais frequentes incluem perseguições, humilhações, jornadas extenuantes, exigência de número de abordagens e imprevisibilidade de escalas. E aqueles que tiram a própria vida são principalmente soldados e sargentos.
Luciana nota ainda que existem “índices muito elevados de suicídio em todas as polícias militares do país”, embora o caso da polícia gaúcha seja mais grave. Nesta conversa, a deputada também explica como a Frente Parlamentar em Defesa dos Brigadianos de Nível Médio, lançada na Assembleia Legislativa, sob sua presidência, pretende expor e debater esta situação.
Acompanhe:
Brasil de Fato RS – O suicídio foi a principal causa de morte de policiais militares no Rio Grande do Sul em quatro dos últimos cinco anos. Ou seja, os PMs morrem mais através das próprias mãos do que por mãos de terceiros em confrontos nas ruas. A que se deve isso?
Luciana Genro – As causas de adoecimento mental são muitas, mas não é casual que a gente tenha um índice maior de suicídios e de afastamento dentro da Brigada. Com certeza há causas dentro da carreira que contribuem enormemente para essa situação tão dramática.
Recentemente, no lançamento da nossa Frente Parlamentar em Defesa dos Brigadianos do Nível Médio, ouvimos relatos de perseguições, inclusive de policiais que foram perseguidos por seus superiores após terem problemas de saúde e precisarem ficar afastados. Há relatos de machismo, com muito assédio sexual e moral, além de LGBTfobia e racismo.
Elaboramos um dossiê bastante completo sobre isso, com muitas denúncias anônimas de perseguições, assédios e constrangimentos. Isso tudo se soma ao fato de que eles convivem diariamente com o estresse já gerado pela profissão e com o fato de estarem arriscando a própria vida.
BdF RS – Um dado impressionante é que, segundo o seu levantamento, já houve cinco suicídios de PMs em apenas três meses de 2023…
Luciana – Infelizmente, temos informação de que já foram seis agora.
BdF RS – Temos dados dos últimos cinco anos. Sabemos se os suicídios eram frequentes também nos anos anteriores? Ou os números mais recentes apontam para causas de adoecimento também mais recentes?
Luciana – Os dados que nos foram fornecidos são destes últimos cinco anos. Foram 49 suicídios de 2018 até 28 de fevereiro de 2023 – mais da metade de todas as mortes de brigadianos no mesmo período. O suicídio também foi a principal causa de morte de policiais militares no Rio Grande do Sul em quatro dos últimos cinco anos – o único ano que o número de mortes em confronto superou o de suicídios foi em 2019.
O estado tem o maior índice de suicídios na população brasileira em geral. Entre os brigadianos, triplica
BdF RS – É possível traçar uma linha de causa e efeito entre os casos de assédio e o alto índice de suicídios na corporação?
Luciana – Não diria que uma linha direta, pois são muitos brigadianos e não temos informação específica sobre cada um dos que cometeram suicídio, se estavam passando por assédios ou não. Mas certamente, os casos de assédio podem ser relacionados aos altos índices de adoecimento mental. O adoecimento mental é o primeiro estágio na triste e dramática situação que pode levar ao suicídio, se não for diagnosticado e tratado, e se as causas que deram origem a esse adoecimento não forem identificadas e modificadas.
BdF RS – A deputada já procurou saber se as polícias militares de outros estados também registram números tão impactantes de suicídios?
Luciana – Existem levantamentos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que indicam índices muito elevados de suicídio em todas as polícias militares do país. Considerando o efetivo da tropa, os brigadianos gaúchos atingiram a média de 30,7 suicídios a cada 100 mil habitantes, enquanto esse índice é de 20,9 em Minas Gerais, 20 em São Paulo, 16 na Bahia e 9,1 no Rio de Janeiro.
O Rio Grande do Sul é o estado com o maior índice de suicídio entre a população brasileira em geral, com 10,3 casos a cada 100 mil habitantes, conforme dados do Ministério da Saúde. Essa proporção triplica entre os brigadianos. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 também informa que o suicídio de policiais no Brasil cresceu 55% entre 2020 e 2021, passando de 65 mortes para 101.
Os suicídios são majoritariamente de brigadianos de nível médio, os que carregam o piano da BM
BdF RS – Tais mortes ocorrem sobretudo na base da pirâmide hierárquica e salarial da BM. Ou há casos no oficialato também?
Luciana – Exato, os suicídios registrados são majoritariamente de brigadianos de nível médio, que são os que carregam o piano da Brigada Militar, e são os mais numerosos na corporação.
BdF RS – O que a Frente Parlamentar em Defesa dos Brigadianos de Nível Médio, lançada na Assembleia Legislativa do RS, pode fazer para combater o quadro atual?
Luciana – A Frente tem como objetivo denunciar essas situações e buscar soluções, tanto no nível individual quanto em geral. Já me reuni com o Comandante-Geral da BM, pouco tempo depois do lançamento da Frente, e levei o dossiê que elaboramos a ele, além de cobrarmos que haja atenção aos casos de adoecimento mental na Brigada. É uma instituição muito fechada, em que há um estigma muito grande sobre isso.
Esperamos que, com a Frente, se contribua para que deixe de ser um tabu e de se ter preconceito quanto a policiais que precisam de atendimento de saúde mental. Também estamos pressionando pelo fim do abismo salarial que existe dentro da BM, por mais valorização para os policiais de nível médio.
Matéria do Brasil de Fato.
Foto: Paulo Garcia / Agência ALRS.
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