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Sopa de letrinhas (2)
Sopa de letrinhas (2)
Por SOLON SALDANHA*
Retomando a reconstituição histórica da formação dos partidos políticos brasileiros, voltamos ao ano de 1989. Naquela oportunidade surgiu, como fruto da mídia e de interesses nem todos muito claros, a figura de Fernando Affonso Collor de Mello, o “Caçador de Marajás”. O homem que encarnava a esperança de uma mudança radical no modo como a política era feita – o final da história todos sabemos, resultando em sua cassação. Parêntesis: dias atrás ele teve uma condenação a oito anos e dez meses de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro mantida pelo STF. Pois, como ele era “diferente”, não poderia concorrer por nenhuma sigla já existente. Assim, fundou o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), com o qual venceu as eleições presidenciais.
Também em 1989 surgiram o Partido Social Trabalhista (PST), o Partido da Reedificação da Ordem Nacional (Prona) e o Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB). Em 1992 é a vez do Partido Popular Socialista (PPS) que, apenas um ano depois já se divide, com uma parte dos seus integrantes refundando o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Também em 1993 há a fundação do Partido Republicano Trabalhista (PRT) e duas fusões: o Partido Democrático Social (PDS) com o Partido Democrata Cristão (PDC) formam o Partido Progressista Reformador (PPR); enquanto o Partido Trabalhista Renovador (PTR) se funde com o Partido Social Trabalhista (PST), dando origem ao Partido Progressista (PP). E nasce o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU).
Em 1994 surge o Partido Social Liberal (PSL) e, no ano seguinte, uma dissidência do Partido dos Trabalhadores (PT) funda o Partido da Causa Operária (PCO). Também em 1995 o Partido Progressista Renovador (PPR) e o Partido Progressista (PP) se fundem, nascendo o Partido Progressista Brasileiro (PPB). O ano foi pródigo, com mais quatro novas siglas surgindo: o Partido Social Democrata Cristão (PSDC), o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), o Partido da Solidariedade Nacional (PSN) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN).
Depois de uma breve calmaria, a proliferação prosseguiu no ano 2000, quando aparece o Partido Humanista da Solidariedade (PHS). Em 2001 foi a vez do Partido Trabalhista Cristão (PTC). Em 2003 o PPB passa a se chamar Partido Progressista (PP). Já em 2005, uma dissidência do PT funda o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). E, do lado conservador, aparece o Partido Municipalista Renovador (PMR). Em 2006 fundam o Partido da República (PR). No ano seguinte o antigo PFL é renomeado para Democratas (DEM), com uma dissidência sua fundando o Partido Social Democrático (PSD) em 2011. Dois anos antes, em 2009, havia nascido o Partido Pátria Livre (PPL). E em 2012 foi a vez do Partido Ecológico Nacional (PEN).
No ano de 2015 nasceram mais três partidos: o Rede Sustentabilidade (REDE), o Partido Novo (NOVO) e o Partido da Mulher Brasileira (PMB). Depois disso, a partir de 2017, o que mais tivemos foram renomeações. O PMDB tirou a letra “pê” da sua sigla e ficando apenas Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O PTdoB passou a ser chamado de Avante; o PTN virou Podemos e o PEN adotou o nome Patriota (ao mesmo tempo em que incorporava o PRP). No ano seguinte o PSDC simplificou para Democrata Cristão (DC), o PP ficou Progressistas.
Em 2019 o PPS foi renomeado para Cidadania, o PR virou Partido Liberal (PL), o PRB passou a se chamar Republicanos. E tivemos duas incorporações: do PHS ao Podemos e do PPL ao PCdoB. Em 2021 o PTC passou a ser chamado de Agir, enquanto DEM e PSL se fundiram formando o União Brasil (UB). Em 2023 o PMN virou Mobiliza, o Pros foi incorporado ao Solidariedade e o PSC ao Podemos. E, finalmente, PTB e Patriota se fundiram formando o Partido Renovação Democrática (PRD).
Se você aguentou ler esse relato até agora, não estranhe estar confuso. Assim é o sistema partidário em nosso país. Hoje temos 29 partidos com registro e em plena atividade, sendo praticamente impossível ao cidadão comum identificar todos eles. O que torna isso uma pergunta excelente para gincanas, por exemplo. Talvez ainda pior do que listar seja acertar em que ponto do espectro ideológico a maioria deles se situa. Por isso, em breve volto aqui para fazer tal coisa. Dentro do que for possível, lógico, porque no Brasil temos progressistas que são conservadores, trabalhistas que não defendem trabalhadores e cristãos aos borbotões, sem qualquer proximidade com o cristianismo, além de supostos democratas que defendem golpe de Estado.
Leia o artigo´Sopa de letrinhas (1).
*Solon Saldanha é jornalista e blogueiro.
Texto publicado originalmente no Blog Virtualidades.
Foto: Divulgação
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