Curtas
Sociedade nega a velhice e o idoso é deixado de lado na cultura moderna, afirma psicanalista
Sociedade nega a velhice e o idoso é deixado de lado na cultura moderna, afirma psicanalista
Dados do Censo 2022 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostram que a população idosa no Brasil cresceu 39,8% nos últimos dez anos. A parcela de pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população.
Além de envelhecer, envelhece sozinho. Entre as mulheres que ocupam moradias unipessoais, cerca de 60% são idosas. Mas a solidão na terceira idade ainda é um assunto pouco abordado, principalmente em políticas públicas de saúde e de cuidado.
Para Pedro Cattapan, pós-doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor na Universidade Federal Fluminense (UFF), a nossa cultura tenta negar o envelhecimento. Em entrevista ao Espaço Plural desta terça-feira, 08, o professor lembra que este período da vida possui diferentes sentidos a depender do momento histórico.
“Em sociedades pré-modernas, inclusive no nossa Brasil há não muito tempo atrás, no século XIX, talvez no começo e primeira metade do século XX ainda, o idoso ou velho – como se queira chamar as pessoas numa idade numa que se considera que elas estão mais próximas da morte do que se nascimento – essas pessoas eram valorizadas como uma espécie de guardião de uma sabedoria tradicional. Ele era alguém que servia de referência a ser consultado, o famoso ancião. ‘Respeite as minhas barbas brancas’ era uma fala muito comum antigamente”, afirmou.
“Na modernização da nossa cultura, algo aconteceu que é a destituição desse lugar de saber, esse lugar de referência não só no que diz respeito ao saber, mas ética na figura do idoso, e a passagem disso para outras instâncias. Por exemplo, o jornalista, o cientista, o especialista é quem tem o saber a respeito de como a gente deve conduzir a nossa vida e esses, inclusive o saber desse especialista é um saber que tá sempre a se construir, está sempre a se modificar como é próprio da construção do pensamento científico. Isso destitui a tradição de seu valor, de modo que o velho, o idoso, não é mais consultado. Ele é visto como alguém que tá enferrujado, alguém que tá repetindo as mesmas manias, ele é patologizado na nossa cultura moderna”, completou o professor.
Assista ao programa completo:
O programa Espaço Plural vai ao no YouTube e no Facebook de segunda à sexta-feira, a partir das 14h, com a apresentação do jornalista Solon Saldanha.
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil.
Para receber os boletins e notícias direto no seu Whatsapp, adicione o número da Rede Estação Democracia por este link aqui e mande um alô.
Toque novamente para sair.