Curtas
Sob protestos dos povos originários, Câmara aprova PL do Marco Temporal
Sob protestos dos povos originários, Câmara aprova PL do Marco Temporal
Texto determina que apenas territórios ocupados por povos indígenas em 8 de outubro de 1988 podem ser demarcados
A Câmara Federal aprovou na noite desta terça-feira (30) o Projeto de Lei 490/07, conhecido como PL do Marco Temporal. O texto prevê a aplicação da tese marco temporal na demarcação de terras indígenas. O placar foi de 283 a 155. Apenas PT, PSOL, PCdoB e Rede votaram contra o projeto. Nenhum dos destaques colocados pelos deputados defensores dos indígenas foi aprovado.
A aprovação significa que novas terras só podem ser demarcadas se ocupadas por povos indígenas na data da promulgação da Constituição de 1988.
A deputada Célia Xakriabá discursou em nome da bancada do cocar, pintando o rosto de urucum. “O Brasil começa por nós, mas se aprovado o PL 490, o Brasil que começa por nós vai ser enterrado no Congresso Nacional”, declarou.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) diz que 60% das 1,4 mil terras indígenas brasileiras não são regularizadas. Quase 600 não tiveram sequer o processo de demarcação iniciado. Se virar lei, o marco temporal será o principal argumento de fazendeiros e grandes empresas para questionar as demarcações ainda não concluídas.
Além de demarcações paralisadas, há o receio de que demarcações já realizadas sejam revistas.
Após a aprovação, o porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Danicley de Aguiar afirmou que a aprovação do projeto é um “atraso”. “A aprovação do PL 490 coroa os esforços da bancada ruralista para relativizar os direitos indígenas e forçar a abertura dos territórios tradicionais ao agronegócio e a outras atividades econômicas incapazes de conviver com a floresta; ignorando o desejo de reparação histórica aos povos originários expresso pela sociedade brasileira nos Artigos 231 e 232 da Constituição de 1988. Em pleno século 21, não podemos tolerar que um punhado de deputados comprometidos com o atraso, sigam trabalhando para reverter a vontade da maioria dos brasileiros. A bancada ruralista precisa entender que todo ataque aos direitos indígenas é um ataque contra a democracia”, disse.
Em nota, o Observatório do Clima lamentou a decisão do Congresso. “Agora, a Câmara dos Deputados dá um recado claro ao país e ao mundo: Bolsonaro se foi, mas o extermínio continua. No que depender de Arthur Lira e sua gangue da motosserra, o meio ambiente e os direitos indígenas serão varridos do mapa nos próximos quatro anos. O Senado, agora, tem a obrigação de reverter os absurdos aprovados pela Câmara, e o STF precisa analisar com urgência o processo do marco temporal.”
O cassado votou
Apesar de ter tido o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral no dia 17 de maio, Deltan Dallagnol (Podemos-PR) participou da sessão e teve seu voto computado.
Em resposta a questão de ordem levantada pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), o quarto secretário da Câmara, deputado Lúcio Mosquini (MDB-RO) respondeu que enquanto a mesa não se reunir para “fazer o quer tem que fazer”, Deltan seguiria apto a exercer seu mandato.
O projeto agora vai ao Senado. Analistas acreditam que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, não tem a mesma pressa de Lira para votar o Marco Temporal. A legalidade da proposta será analisada pelo Supremo Tribunal Federal já no mês de junho.
Matéria do Brasil de Fato
Foto da deputada Célia Xakriabá protestando contra o texto no plenário da Câmara Federal – Pablo Valadares/Câmara dos Deputados.
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