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Opinião

Sinfonia sinistra dos assuntos externos de Kissinger

Sinfonia sinistra dos assuntos externos de Kissinger

Artigo por RED
06/12/2023 05:25 • Atualizado em 08/12/2023 10:51
Sinfonia sinistra dos assuntos externos de Kissinger

De ALEXANDRE CRUZ*

Henry Kissinger, um nome sinônimo de diplomacia e relações internacionais, deixou uma marca indelével no cenário mundial. Celebrado por alguns como um estrategista habilidoso e agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1973, o legado de Kissinger é, no entanto, um tecido entrelaçado com fios de controvérsia e crítica.

Um dos capítulos mais polêmicos na carreira de Kissinger foi seu envolvimento no golpe de 1973 no Chile, que depôs o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. Críticos argumentam que Kissinger desempenhou um papel crucial na orquestração desse tumulto político, deixando uma mancha duradoura em seu registro diplomático. As implicações de suas ações ainda são sentidas no Chile hoje, à medida que as feridas desse período tumultuado continuam a moldar o cenário político da Nação.

Ainda mais alarmantes são as alegações em torno do aconselhamento de Kissinger à ditadura argentina em 1976. Relatos sugerem que ele recomendou uma abordagem implacável, encorajando o regime a realizar execuções em massa como meio de consolidar o poder.

O apoio de Kissinger a regimes autoritários na América Latina se estendeu ao Brasil, onde ele abertamente acolheu a ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985.  O nome de Henri Kissinger está profundamente ligado a um dos períodos mais sombrios da história latino-americana: a Operação Condor. Este episódio, muitas vezes esquecido nos relatos sobre a carreira de Kissinger, adiciona uma camada adicional de preocupação ao legado do ex-secretário de Estado dos Estados Unidos.

A Operação Condor foi uma aliança clandestina entre as ditaduras militares de vários países da América Latina, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai e outros, que buscavam coordenar esforços para reprimir opositores políticos. Esta sinistra colaboração, que se desenrolou durante as décadas de 1970 e 1980, resultou em perseguições, torturas e execuções de milhares de pessoas.

Kissinger é frequentemente apontado como um dos arquitetos intelectuais por trás da Operação Condor, fornecendo apoio e incentivo às ditaduras participantes. Seu suposto papel nesse esquema sinistro adiciona uma dimensão adicional à sua já controversa trajetória política. Ao analisar os documentos desclassificados e depoimentos de testemunhas, alguns argumentam que Henry Kissinger desempenhou um papel ativo na promoção da cooperação entre os regimes autoritários. Seja por meio de reuniões secretas ou comunicações discretas, ele é acusado de incentivar uma sinergia brutal entre os países participantes da Operação Condor.

O resultado desse conluio foi uma escalada significativa na repressão política, marcada pelo sequestro e assassinato de opositores políticos em diferentes nações sul-americanas. Essa operação clandestina deixou um legado de trauma e dor, cujas cicatrizes ainda são visíveis nas sociedades afetadas. Incluir a Operação Condor na análise crítica de Kissinger revela uma faceta ainda mais sombria de sua influência na política externa. Enquanto ele é elogiado por sua habilidade diplomática, não podemos ignorar as consequências devastadoras de suas estratégias geopolíticas.

Este capítulo sinistro não apenas aprofunda as críticas sobre a ética de Kissinger, mas também destaca a importância de questionar a impunidade de figuras que, sob o véu da diplomacia, podem ter desempenhado papéis cruciais em eventos que afetaram negativamente a vida de tantos. A Operação Condor permanece como uma lembrança sombria de que, por trás de fachadas elegantes e prêmios nobres, podem residir segredos obscuros que merecem escrutínio minucioso.

Críticos argumentam que a abordagem realista de Kissinger, embora pragmática, muitas vezes priorizava ganhos a curto prazo em detrimento da estabilidade de longo prazo e considerações éticas. O aparente desrespeito pelo custo humano de suas recomendações levanta questões sobre a verdadeira natureza de seu comprometimento com a harmonia global.

Em conclusão, o legado de Henry Kissinger é de contradição e controvérsia. Enquanto alguns admiram sua sagacidade estratégica, outros não conseguem ignorar as consequências de seus conselhos e ações. A elegante fachada de finesse diplomática, coroada por um Prêmio Nobel da Paz, obscurece uma realidade mais sombria que exige escrutínio e reflexão. Ao desmembrarmos as camadas da carreira de Kissinger, devemos confrontar as verdades desconfortáveis que desafiam a essência dos ideais que ele supostamente defendeu.


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

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